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"Não é nada humilde insistir em ser quem não somos.". (Thomas Merton)"»♥«

«Quaisquer que sejam teus sofrimentos, a vitória sobre eles está no silêncio.»(Abade Pastor) »♥«

sexta-feira, setembro 14

Humildade e Vigilância

Aquele que empreende o combate interior necessita, a todo momento, de quatro coisas: humildade, grande vigilância, vontade de resistir e oração. Trata-se de vencer, com a ajuda de Deus, os "etíopes dos pensamentos," expulsando-os pela porta do coração e esmagando seus nenês contra a rocha (cf. Sl 137:9). A humildade é uma condição prévia, pois o homem orgulhoso é eliminado do combate, uma vez por todas. A vigilância é necessária para reconhecer imediatamente os inimigos, e para conservar o coração livre dos vícios. A vontade de resistir deve estar presente assim que o inimigo seja reconhecido. Porém, visto que "... sem mim, nada podeis fazer" (Jo 15:5), a oração é o trunfo mais importante, do qual depende todo o combate. Um rápido exemplo te ajudará a compreender: através da vigilância, percebes um inimigo que se aproxima da porta do teu coração: és tentado a pensar mal de um de teus irmãos. Sem demora, fica alerta a tua vontade de resistir, e afastas a tentação. Mas, no último instante, és assaltado por um pensamento de amor-próprio: "Escapei, graças à minha vigilância!" E tua vitória aparente se torna uma terrível derrota. A humildade soçobrou. Se, ao contrário, abandonares a teu Senhor todo o combate, já não terás razão de estar contente contigo mesmo, e continuarás livre. Notarás bem depressa que não há arma com mais poder do que o Nome do Senhor. Esse exemplo mostra que o combate deve ser travado sem descanso. As sugestões más penetram em nós como uma rápida torrente, e é preciso barrar a estrada com grande rapidez. São os "... dardos inflamados do Maligno" (Ef. 6:16), de que fala o apóstolo; e eles chovem, sem cessar, sobre nós. Sem cessar, também, por conseguinte, devemos clamar ao Senhor. "Pois o nosso combate não é contra o sangue nem contra a carne, mas contra os Principados, contra as Autoridades, contra os Dominadores deste mundo de trevas, contra os Espíritos do Mal, que povoam as regiões celestes" (Ef 6:12). O combate se inicia pela sugestão, conforme explicam os santos. Vem depois a relação, quando penetramos mais no que a sugestão nos deu. A terceira fase é o consentimento, e a quarta é o pecado cometido exteriormente. A passagem de uma para a outra, dessas quatro fases, pode ser instantânea; mas também é possível que elas se sucedam como tantos outros degraus, o que permite distingui-las. A sugestão bate à porta, como um vendedor ambulante que oferece a sua mercadoria. Se o deixarmos entrar, ele começa com a sua lábia, e é difícil livrar-se dele, mesmo percebendo que sua mercadoria não vale nada. Vem o consentimento, e finalmente a compra, muitas vezes a contragosto. Deixamo-nos vencer por um enviado do Maligno. A respeito da sugestão, disse Davi: "A cada manhã eu farei calar todos os ímpios da terra" (Sl 101:8), pois "em minha casa não habitará quem pratica fraudes" (ibid. 7). Sobre o consentimento, disse Moisés: "Não farás aliança nenhuma com eles" (Ex 23:32). O primeiro versículo do Salmo l fala da relação, segundo a interpretação dos Padres: "Feliz o homem que não vai ao conselho dos ímpios." De fato, é muito importante resistir aos inimigos "às portas" (Sl 127:5), sem deixá-los entrar. Mas pode acontecer que seja numerosa a multidão que se comprime diante da porta; sabemos também que "... o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz" (2Cor 11:14). Por isso nos advertem os santos Padres: que conservemos o coração puro de qualquer sugestão, sensação ou imaginação, sejam de que natureza forem. Com efeito, não está em nossas mãos separar as sugestões más das boas: só o Senhor o pode. Devemos, pois, abandonar tudo nele com confiança,sabendo que "... se Iahweh não guarda a cidade, em vão vigiam os guardas" (Sl 127:1). Em contrapartida, depende de nós ficarmos vigilantes para que não surja nenhum pensamento vil em nosso coração (cf. Dt 15:9); para que ele 'não se transforme num mercado onde uma multidão heterogênea se agita num contínuo tumulto, de maneira que se torna impossível reconhecer o que se passa. Ladrões e malfeitores podem, então, encontrar-se ali; mas os anjos da paz, em vão os buscarias. A paz e o Senhor da paz fogem de um lugar assim. Por isso, ele nos disse por seu apóstolo: "... santificai os vossos corações" (Tg 4:8); e ele próprio nos adverte: "Atenção, e vigiai" (Mc 13:33). Pois, se ele vier e encontrar impuros os nossos corações, e nós mesmos adormecidos, dirá: "... não vos conheço!" (Mt 25:12). A hora dessa vinda é sempre iminente: se não for no momento presente, será no seguinte; e se não for no seguinte, será agora. Porque, como o Reino dos céus, a hora do julgamento está sempre presente em nosso coração. Assim, pois, se o guarda não vigiar, o Senhor também não vigiará; mas se o Senhor não vigia, o guarda vigia em vão. Por conseguinte, vigiemos à porta do nosso coração, mas sempre chamando o Senhor, incessantemente, para que nos ajude. Não olhes para o lado do inimigo. Não te ponhas jamais a discutir com ele, porque não conseguirás resistir. Devido à sua experiência milenar, ele sabe exatamente como proceder para te abater de imediato. Porém, fica no meio do campo de batalha do teu coração, e dirige para o alto o teu olhar. Assim, o teu coração será protegido de todos os lados ao mesmo tempo. O Senhor mesmo enviará os seus anjos para guardar-te, à direita e à esquerda, impedindo que sejas atacado pelas costas. Em outras palavras, quando fores perseguido pela tentação, não te deves deter para examiná-la, refletir, pesar prós e contras. Agindo assim, já maculas teu coração, perdes tempo; já é uma vitória para o inimigo. Ao contrário, volta-te sem demora para o Senhor e diz: "Senhor, tende piedade de mim, pecador!" Quando tiveres retirado os teus pensamentos da tentação, o Senhor virá. Nunca fiques seguro de ti mesmo. Não formes jamais no teu espírito uma boa resolução deste gênero: "Oh, sim! Vou fazer tudo muito bem!" Nunca tenhas confiança em tuas próprias forças, para resistir a uma tentação, seja ela qual for, grande ou pequena. Pensa, ao contrário: "Tenho certeza de que cairei, quando ela vier." A confiança em si é um aliado perigoso. Quanto menos te apoiares nela, mais seguro estarás. Reconhece que és fraco, totalmente incapaz de resistir à menor insinuação do demônio. E então espantado, descobrirás que não podes absolutamente nada. Visto que farás do Senhor o teu refúgio, poderás imediatamente proclamar que "a desgraça jamais te atingirá" (Sl 91:10) A única desgraça que pode acontecer a um cristão é o pecado. Se te sentes amargurado por teres caído, de um modo ou de outro; se te censuras duramente e se multiplicas as resoluções de "nunca mais recomeçar," é sinal certo de que estás no caminho errado: isso provém do fato de que tua autoconfiança se sente ferida. Quem não confia em si mesmo, fica profundamente surpreso de não ter caído mais baixo, e se sente cheio de reconhecimento. Agradece a Deus por lhe ter enviado, a tempo, o socorro sem o qual ele teria sido completamente esmagado. Levanta-se rapidamente, e começa a oração por um triplo "Deus seja louvado!" Uma criança mimada fica muito tempo chorando, quando cai. Procura atrair uma manifestação de simpatia, uma carícia que a console. Mas tu, não sejas pretensioso; pouco importa se sofres. Ergue-te e recomeça o combate. É normal que se fira aquele que luta. Só os anjos não caem nunca. Mas roga a Deus que te perdoe e não permita que sejas novamente surpreendido. Não sigas o exemplo de Adão, jogando a culpa em tua mulher, ou no demônio, ou em qualquer outra causa exterior. A causa da tua queda está em ti mesmo: enquanto o Mestre estava fora de casa, deixaste os ladrões e os malfeitores entrarem e pilharem tudo à vontade. Roga a Deus que isso não se repita. Perguntaram a um monge: "Que fazeis aqui, no mosteiro?" Ele respondeu: "Caímos e nos levantamos, caímos e nos levantamos, caímos e nos levantamos outra vez." De fato, em tua vida, poucos minutos se passam sem que caias pelo menos uma vez. Então, ora para que Deus tenha piedade de ti. Ora para obter perdão e graça; suplica, como o pode fazer um criminoso condenado à morte, e lembra-te de que é somente pela graça que fomos salvos (cf. Ef 2:5). Não podes, de modo algum, reivindicar a libertação e a graça como algo que te é devido. Considera-te um escravo fugido que, prostrado diante de seu senhor, suplica que o poupe. Essa deve ser a tua oração, se queres seguir a doutrina de Santo Isaac, o Sírio, e "abandonar o fardo interior de teus pecados, para descobrir, dentro de ti mesmo, o atalho que sobe, tornando possível a ascensão."

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