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sexta-feira, setembro 14

A sobriedade do corpo e do espírito, CONDIÇÃO DA ORAÇÃO

Quando nos entregamos à oração dessa maneira, é importante não dar plena liberdade ao corpo. Santo Isaac, o Sírio, diz que uma oração em que o corpo não esteja desconfortável e o coração aflito, permanece embrionária, sem alma. Ela leva em si o germe da autoconfiança e do orgulho, que conduzem o nosso coração a crer que fazemos parte, não apenas dos "chamados," mas também dos "poucos escolhidos" (Mt 22:14). Não confies nesse tipo de oração, pois é a raiz de muitas ilusões. Como teu coração continuou apegado à carne, teu tesouro também continua a ser de ordem carnal; e, enquanto acreditas, talvez, que atinges o céu, consegues apenas o que também é carnal. A alegria que sentes carece de pureza e se traduz de modo exuberante; tens urgência de falar, sentes vontade de catequizar e converter os outros, sem teres sido chamado pela Igreja a exercer o ofício de mestre. Interpretas a Escritura conforme a tua mentalidade carnal, e não consegues suportar que te contradigam; defendes apaixonadamente o teu ponto de vista. Tudo isso porque te esqueceste de disciplinar o corpo e, por isso, de humilhar o coração. A verdadeira alegria é tranqüila e estável; por isso, o apóstolo nos ordena: "Ficai sempre alegres" (1Ts 5:16). Ela resulta de um coração que derrama lágrimas sobre o mundo e sobre si mesmo, porque todos se desviaram da luz que não se apaga. A verdadeira alegria se consegue através das lágrimas. Por esse motivo, está escrito: "Bem-aventurados os aflitos" (Mt 5:5), e: "... Bem-aventurados vós, que agora chorais," mortificando o "eu" carnal, "porque haveis de rir" pelo "eu" espiritual (Lc 6:21). A verdadeira alegria é reconfortante, uma alegria que brota, não só do conhecimento de nossa própria fraqueza, mas também da misericórdia do Senhor; e ela não precisa de um riso ruidoso para se expressar. Pensa ainda nisto: quem se apega às coisas da terra, pode encontrar alegria, mas também agitação, inquietação e aflição; seu espírito se expõe a contínuas flutuações. A "alegria do teu Senhor" (Mt 25:21), ao contrário, é estável, porque Deus é imutável. Portanto, vigia a tua língua e disciplina o teu corpo, através do jejum e de uma vida austera. A tagarelice é o grande inimigo da oração. Por isso, deveremos dar contas de toda palavra inútil (Mt 12:36). Quando queremos manter limpo um apartamento, procuramos impedir que entre a poeira da rua. Preserva teu coração das tagarelices e dos mexericos sobre os acontecimentos do dia. "... Notai como um pequeno fogo incendeia uma floresta imensa. Ora, também a língua é um fogo" (Tg 3:5-6). Porém, sem ar, a chama se apaga. Deixa também sem ar as tuas paixões, e elas se extinguirão pouco a pouco. Se sentes inflamar-se a tua ira, cala-te, e não deixes que ela transpareça Fala dela somente a Deus. Assim apagarás a mecha que acabou de se acender. Quando te perturbas pelos erros dos outros, segue o exemplo de Sem e de Jafé, e cobre-os com o manto do silêncio (Gn 9:23); assim sufocarás o desejo de julgar, antes que as chamas subam. O silêncio está pronto para ser preenchido com a oração atenta, como um vaso vazio para se encher de água. Porém, quem quiser praticar a arte da vigilância espiritual, não é só da língua que deve cuidar. Deve cuidar de si mesmo (Gl 6:1), minuciosamente, e estender a solicitude às profundezas do seu ser. Nessas profundezas, descobrirá imensos espaços interiores, onde se agita um grande número de lembranças, imaginações, pensamentos, que devem ser reprimidos. Não despertes uma lembrança que poderá cobrir de lama a tua oração; não revolvas as impressões que antigos pecados deixaram em ti. Não sejas "como o cão que torna ao seu vômito" (Pr 26:11). Não deixes que a tua memória se demore em fatos que poderiam reanimar teus maus desejos; não permitas que tua imaginação divague. O baluarte preferido do demônio é exatamente a nossa imaginação. Por meio dela, ele nos atrai para a "relação," isto é, a discussão com ele; daí, para o consentimento e para o pecado em ato. Ele semeia a incerteza e a agitação entre os teus pensamentos; ele te sugere todo tipo de raciocínios, de provas, de perguntas vãs e de respostas que damos a nós mesmos. Opõe, a isso tudo, a palavra do salmista: "Afastai-vos de mim, perversos, eu vou guardar os mandamentos do meu Deus" (Sl 119,115).

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