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quinta-feira, setembro 13

CAPÍTULO I. REPARAÇÃO DO CRIVO QUEBRADO.

CAPÍTULO I. REPARAÇÃO DO CRIVO QUEBRADO.
“Deixando, pois, as humanidades, resolveu procurar um lugar ermo,
seguido apenas pela aia, que o amava com ternura. Chegaram,
assim, a certa localidade chamada Enfide, onde, entretidos pela
caridade de muitos homens de virtude, ficaram morando junto à
igreja de S. Pedro Apóstolo. Um dia, a ama pediu às vizinhas que lhe
emprestassem um crivo para limpar o trigo; tendo-o, porém, deixado
descuidadamente sobre a mesa, o crivo caiu e se quebrou, ficando
partido em dois pedaços. Logo que voltou e o encontrou nesse
estado, a mulher começou a chorar muito, aflita por ver quebrada a
vasilha que tomara de empréstimo. Quando, porém, o piedoso e
bondoso jovem Bento encontrou a ,ama chorando, compadecido da
sua dor, pegou os dois cacos do vaso, e, levando-os consigo,
entregou-se à oração com lágrimas. Quando se ergueu da oração,
viu junto de si o crivo de tal forma íntegro que nenhum vestígio se
podia descobrir da fratura. Então, pronta e carinhosamente consolou
a ama, devolvendo-lhe são o vaso que levara em cacos.
Este fato passou ao conhecimento de todos os habitantes do lugar,
e foi tido em tanta admiração que penduraram à porta da igreja o
crivo restaurado, a fim de que os contemporâneos e os pósteros
todos ficassem sabendo em que grau de perfeição o jovem Bento
principiara a graça da vida monástica. A vasilha ficou por muitos
anos exposta aos olhares de todos, pendendo à parta da igreja até
estes tempos dos Lombardos.
Bento, porém, mais apetecendo os maus tratos que os louvores do
mundo, e preferindo fatigar-se de trabalhos por Deus a ser alçado
pelos favores desta vida, fugiu ocultamente da ama e foi dar a um
retiro deserto no lugar denominado , distante de Roma cerca de
quarenta milhas. Aí brota uma água fresca e transparente, que,
correndo com abundância, primeiro forma um grande lago, do qual
deriva, afinal, um rio.
Quando para ali se encaminhava em fuga, encontrou certo monge de
nome Romano, que lhe perguntou aonde ia. Ciente do seu desejo,
não só guardou segredo mas ainda lhe prestou ajuda e deu o hábito
do monacato, servindo-o no que podia.
Chegado a tal lugar, o homem de Deus recolheu-se à apertadíssima
gruta, onde morou três anos ignorado de todos, excetuado o monge
Romano. Este último vivia num mosteiro próximo, sob a regra do
abade, a cujo olhar piedosamente furtava algumas horas para levar a
Bento, em determinados dias, a parte de pão que conseguira
subtrair ao próprio consumo. Não havia caminho do mosteiro de
Romano à gruta, por causa de alto rochedo que em cima da gruta
fazia saliência ; mas Romano, do alto dessa pedra, costumava fazer
descer o pão pendurado a uma corda comprida a que prendera uma
campainha para que o homem de Deus, ao ouvir-lhe o toque,
soubesse que era a hora de baixar o alimento, e saísse a tomá-lo.
Um dia, porém, o antigo inimigo, invejando a caridade de um e a
refeição do outro, quando viu descer o pão, jogou uma pedra e
quebrou a campainha. Romano, não obstante, não desistiu de
prestar por meios aptos o seu serviço.
No entanto, Deus todo-poderoso queria, de um lado, descansar
Romano do trabalho, e, doutro lado, exibir aos homens, para
exemplo, a vida de Bento, a fim de que brilhasse como lâmpada
sobre o candelabro, iluminando todos os que estão na casa. Por
isto, o Senhor dignou-se de aparecer a certo presbítero que morava
longe e acabava de preparar, no dia de Páscoa, a própria refeição;
disse-lhe: “Preparas delícias para o teu próprio gozo, enquanto o
meu servo em tal lugar é atormentado pela fome'.” O sacerdote
levantou-se imediatamente e no próprio dia da solenidade de
Páscoa, com os alimentos que para si preparara, saiu na direção
indicada, procurando o homem de Deus através dos montes
escarpados, pelos vales e fossas do terreno, até que o achou
escondido na gruta. Depois de rezarem, assentaram-se bendizendo a
Deus todo-poderoso; após suaves colóquios sobre a vida eterna, o
recém-vindo disse estas palavras: “Eia, tomemos alimento, porque
hoje é Páscoa. Respondeu-lhe o homem de Deus: “Sei que é Páscoa,
pois mereci a graça de te ver”. Morando longe dos homens, Bento
ignorava que a solenidade pascal era naquele dia; más o venerável
presbítero de novo lho asseverou: “Em verdade hoje é Páscoa, o dia
da Ressurreição do Senhor. De modo nenhum te fica bem jejuar,
pois aqui fui mandado justamente para que juntos partilhemos as
dádivas de Deus todo-poderoso” . Louvando, pois, o Senhor,
tomaram alimento; e, finda a refeição e o colóquio, voltou o padre
para a sua igreja.
Por esse mesmo tempo também alguns pastores o encontraram
escondido na caverna. Vendo-o entre arbustos, vestido de peles,
julgaram a principio que fosse um animal selvagem; mas, quando
ficaram conhecendo o servo de Deus, muitos se converteram da sua
mente animal para a graça de uma vida piedosa. Assim o nome de
Bento tornou-se conhecido pelos arredores; já desde então Bento
começou a ser visitado por muitos que, trazendo-lhe a refeição para
o corpo, levavam, em troca, nos corações, o alimento de vida que
procedia dos lábios do santo.

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