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"Não é nada humilde insistir em ser quem não somos.". (Thomas Merton)"»♥«

«Quaisquer que sejam teus sofrimentos, a vitória sobre eles está no silêncio.»(Abade Pastor) »♥«

sábado, setembro 29

Jesus, Fonte que Jorra para Sempre.


Meus amados, os nossos momentos são difíceis, o nosso dia-dia nunca é fácil diante das dificuldades que encontramos.Principalmente quando não temos fé, quando deixamos que o barulho do mundo nos impeça de ouvir a voz de Deus.

Ele que nos convida a todos momento a viver uma nova vida, um novo despertar...e nós muitas vezes o recusamos, não somos capazes de entender esse apelo de Deus.

Jesus vem nos alertar para os perigos que este mundo nos oferece ou nos impõe todos os dias.Mas ao mesmo tempo ele se oferece como uma abundante fonte de vida.Simbolizada na água como fonte de vida eterna."Quem crê em mim, como diz a Escritura: Do seu interior manarão rios de água viva (Zc 14,8; Is 58,11).(Jo 7,38)

Então, Jesus em sua misericórdia vem nos libertar do medo, da perseguição, e de todo tipo de escravidão.Quando passamos por tribulações não significa que Ele não nos ama, mas que são provações e que muitas vezes não entendemos a pedagogia de Jesus.Ou se sofremos muitas vezes é por consequência de nossas teimosias.

Portanto, olhemos para Jesus como a única e verdadeira fonte de água viva, pura, cristalina que pode nos resgatar das nossas prisões.É ele o nosso SALVADOR.

Fiquem com Deus!
PAZ E BEM!!!
Tarcísio Silva

quarta-feira, setembro 19

Visita de Jesus

Calma, não se assuste! Eu sou aquele que vim trazer-te a PAZ! Não sou nenhum MAGO, não sou nenhum FEITICEIRO, não sou nenhum ADIVINHO. Eu só vim fazer-te um pedido: não ponha sua fé nas falsas doutrinas, não acredite em superstições, não acredite em horóscopo, não dê confiança aos falsos pregadores que ensinam uma religião sem Cruz. Eu venci a morte passando por ela. Não aceite as propostas desse mundo contaminado pelo pecado...Aproxima-te de mim e toque no meu Coração chagado, ferido e sagrando porque aceitei o martírio por amar-te tanto. Creia tão somente no meu evangelho e nunca deixe de ADORAR-ME no SS. SACRAMENTO.EU SOU O TEU ALIMENTO. Mesmo que sofras, saiba que estarei contigo, todo este sofrimento vai passar e te esperarei no PARAÍSO.(Tarcísio Silva) Fique com Deus! PAZ E BEM!!!

terça-feira, setembro 18

Santa Margarida d'Oingt

Queridos irmãos e irmãs!

Marguerite d'Oingt, que eu dedico minha catequese de hoje nos voltamos para uma voz feminina para o Kartäuserspiritualität. O Cartuxos, o seguinte. Regra estritamente ascético e contemplativo de São De Bruno ao vivo, produziram belos frutos e espiritual na Idade Média, também muito populares. Você tem a tarde Devotio Moderna preparado, o que fez a imitação concreta de Cristo na missão pessoal diário.

Sobre a vida de Marguerite d'Oingt nós não sabemos muito. Ela veio de uma família nobre da região de Lyon e em 1288 foi a priora de Poleteins Kartäuserinnenklosters. E lá ela morreu também em 1310. De sua pena diversos trabalhos menores são conhecidos, que foram feitos apenas para uso privado. Apenas a fonte Speculum - "espelho" - foi lançado em um capítulo posterior Geral da Ordem a se espalhar.

Base do livro é uma visão em que Cristo a freira aparece com um livro na mão, todo coberto de caracteres. O livro aberto é como um espelho no qual a freira vê a vida terrena de Jesus, sua humildade, sua paciência e sua obediência até a morte contra o fundo de suas próprias vidas. Eles reconhecem a sua própria incompetência. Ao mesmo tempo, Cristo está refletida em sua auto e encoraja-os a segui-lo com persistente vontade de suportar o sofrimento e desgraça, a alegrar-se no amor de Deus, e para o céu desejo. O conteúdo do livro é cada vez inscrito em seu próprio coração, para que suas vidas e da vida de Cristo em um outro. Isso cria uma relação de amor concreto com Cristo, que ouviram mais e mais. Ele mesmo toma o lugar de seus pais com ela, como ela diz em uma oração: "Nem eu, nem eu quero pai e mãe, exceto por você", com estas palavras, ela não vai desprezar os seus laços familiares - ao contrário, tem a sua família amada - mas para expressar que o amor de Deus transcende todos os sentimentos humanos.

O essencial realmente que ela nos quer dizer é, podemos ler a vida de Cristo como se fosse em um livro, vamos tocá-los eu mesmo, que temos a nossa própria consciência à luz da minha vida ter, renová-los tocar, e limpo . Esta escuta, aprender a olhar para Cristo e de sua vida, para purificar a nossa consciência: Isso é o que ela quer nos dizer e aquilo que deve apontar o caminho para o dia a dia.

Saúdo cordialmente os peregrinos e visitantes, alemão, e, claro, hoje, especialmente os seminaristas do estudo do arcebispo seminário St. Michael em Traunstein, meu próprio curso, como você sabe. Marguerite d'Oingt nós é um modelo para responder ao amor de Deus para nós com um compromisso alegre aos nossos companheiros seres humanos. O Senhor vos acompanhe em todas as suas formas.
Fonte:http://josbrunonis.blogspot.com.br/search/label/Personen

Visita do Santo Padre aos Monges Cartuxos da Calábria

Em 9 Outubro de 2011, o Santo Padre visitou os monges de Chartreuse.
Monastero di San Bruno, na Calábria, 4

Irmãs de Belém

Hino ao Cantar do Galo

O hino aeterne Rerum Conditor é cantada em breviário monástica no Laudes do domingo de madrugada (quando o galo cante). A Liturgia cartuxo seu lugar já é encontrado em Nachtoffizium, no início das Matinas, logo após Invitatório.

Esta canção aeterne Rerum Conditor um dos hinos ambrosianos. Ele é considerado um dos melhores hinos da Igreja Latina , como muitas referências às Escrituras tornam particularmente. Na parte da manhã é cantado, o início com um galo levanta as sombras da noite de distância. Homem livre-religiosas dúvidas, doença e pecado - é convidado a, a subir com a luz em erupção para se juntar ao louvor da criação de Deus e homenagem.

Os monges cartuxos da Grande Chartreuse :



Aeterne Rerum confeiteiro,
noctem diemque qui regis,
et temporum o tempora,
ut Alleves fastidium.

Nocturna lux viantibus
um Nocte noctem segregans,
praeco Diei iam Sonat,
solis jubarque evocat.

Hoc excitatus Lúcifer
solvit polum caligine:
hoc omnis erronum cohors
Viam nocendi deserit.

Hoc excitatus Lúcifer
solvit polum caligine:
hoc omnis erronum cohors
Viam nocendi deserit.

Hoc nauta vires colligit,
pontique mitescunt Freta:
hoc, ipsa petra Ecclesiae,
canente, culpam diluit.

Surgamus ergo strenue:
gallus iacentes excitat,
et somnolentos increpat,
arguit negantes gallus.

Gallo canente, spes redit,
aegris salus refunditur,
mucro latronis conditur,
fides lapsis revertitur.

Jesus labantes respice,
et nn videndo Corrige:
si respicis, Labes cadunt,
fletuque solvitur culpa.

Tu, lux refulge, sensibus,
mentisque somnum discute:
te vox nostra primum SONET,
et vota solvamus tibi.

Deo Patri sit gloria
Eiusque sozinho Filio,
Cum Spiritu Paraclito,
Nunc et omne por oculistas. Amen.

Aeterne Rerum - América-alemão

Eterno Criador do mundo,
de você como a noite do dia beherrschest
e ocasionalmente surgir sufferest,
abolir o tédio.

A noturnos caminhantes leves, incluindo um
Parte da noite dos outros depósitos, o Ver-
Anunciante do dia pode ter sua reputação, ele
som e traz os raios do sol.

Através dele desperta a estrela da manhã e liberta
o céu da escuridão,
por deixá-lo toda a banda do mal
Espíritos da maneira a posição noite.

Através dele, o barqueiro recolhe novas forças
e suavizar as ondas do mar:
em sua reputação expia a rocha da Igreja
sua culpa.

Vamos subir, portanto, apressar
o galo acorda o homem deitado
e repreende o sono,
o galo acusa o descuidado.

Com o galo volta a esperança
Melhoria é dada ao doente,
o punhal do ladrão está escondido
os mortos voltam à fé novamente.

Ó Jesus, dar atenção ao tropeço
e melhor a nós mesmos através de seus olhos;
olhas tu para nós, então deixar os pecados,
e vinhos por dívida está paga.

Ó luz, você parece nos corações e
afugentar o sono da alma:
autentique-se primeiro para expressar o nosso louvor,
eo que nós prometemos, nós queremos mantê-lo.

Glória a Deus Pai
e seu único filho,
e do Espírito Santo, o Consolador,
agora e para sempre. Amem.
Fonte:http://josbrunonis.blogspot.com.br

Ave maria

Cantos com Cartuxos

segunda-feira, setembro 17

Santo Antônio, o Pai dos Monges

Santo Antão
Os primeiros monges se instalaram no deserto do Egito, simbolicamente no caminho entre Oriente e Ocidente, pelo final do século III. Algumas pessoas procuram lugares desertos para buscar a perfeição, fazendo penitência, trabalhando, meditando e orando.

São os eremitas (= homens do deserto) ou anacoretas (= homens que se retiram). O mais conhecido é Antão ou Antônio (250-356), pelo ano 275. Nascido de família cristã, ainda jovem, vende tudo, dá o dinheiro aos pobres e inicia o caminho da retirada: primeiro no cemitério, depois mais na periferia, entra no deserto e, à medida em que se fortalece espiritualmente, aprofunda-se sempre mais no deserto.

Não demora muito e homens e mulheres o procuram como Abbas (abade, pai espiritual), para guiá-los. Quando Santo Atanásio (297-373) publicou a Vida de Antônio foi imenso o entusiasmo por toda a Igreja, chegando ao Ocidente.

Os Cenobitas e a Vida Comunitária

O viver sozinho podia conter o perigo da falta de discernimento, de orientação. Por isso, Pacômio organizou a vida cenobítica (= vida em comum). São Pacômio, eremita em 308 e cenobita em 325, acrescenta a vida comunitária na entrega radical ao Senhor.

A regra de vida é a Sagrada Escritura e a vida comunitária se inspira na comunidade primitiva de Jerusalém: igualdade absoluta no vestir e no comer, o trabalho como meio de sustento. O monge renuncia cada dia à própria vida para viver na caridade, na condivisão dos bens até chegar à doação da própria vida pelos irmãos.

Deve-se lembrar que, não havendo um mestre sábio e santo, alguns monges assumiram estilos de vida muito estranhos: viver por dezenas de anos no topo de uma coluna (os estilitas), emparedar-se como prisioneiro, até a morte, nunca banhar-se. Essas aberrações foram logo combatidas pela verdadeira vida monástica.

Os Monges

A Solidão de um Monge
Diferente do Ocidente, o Oriente não conhece ordens e congregações religiosas: apenas se é monge.

Por que o fascínio pelo deserto? O deserto simboliza o silêncio, o misterioso. Tem vida e morte, frio e calor. É lá que se dá a luta entre Deus e Satanás, é lá que se deve combater o demônio e encontrar a Deus.

Quanto maior penetração pelo deserto, mais acirrada é a luta com o demônio. Por isso o monge, quanto mais perfeito, mais se adentra pelo deserto misterioso.

Ele quer ficar sozinho, mas logo vê à sua volta jovens querendo o mesmo caminho e muita gente vindo pedir oração e conselho.
NOTA:

Publicação autorizada pelo autor.
Pe. José Artulino Besen, é pároco de Itajaí e Prof. do ITESC - Instituto Teológico de Santa Catarina
Fonte:http://www.ecclesia.com.br

A Atividade ou a Contemplação?

Monge de Camaldoli
"Preferirás a atividade ou a contemplação?
A contemplação é a ocupação dos perfeitos,
a ação pertence a muitos.
Ambas são boas e queridas.
Eleja aquela que se ajuste a ti".
(S. Gregório, o Teólogo)

A VIDA MONÁSTICA E OS PADRES CAPADÓCIOS

Monges em Biblioteca
A vida dos três grandes padres capadócios, São Basílio, São Gregório de Nazianzo e São Gregório de Nissa foi profundamente marcada pela vida monástica florescente naquela época.

A vida monástica começou a florescer na Igreja pouco antes do Concílio de Nicéia, quando Santo Antão resolveu dedicar-se a uma vida de oração como eremita no deserto do Egito. Seu exemplo foi tão edificante que, ao falecer, com mais de cem anos de idade, um terço da população do Egito era constituído por monges. Do Egito o monasticismo espalhou-se rapidamente pela Ásia e chegou também ao Ocidente.

Inicialmente os monges eram eremitas, mas aos poucos passaram a viver em comunidades sob a disciplina de regras que foram progressivamente se aperfeiçoando, vindo a alcançar a sua forma mais madura no Oriente com as regras monásticas de São Basílio e no Ocidente com a regra de São Bento.

Os três padres capadócios eram bispos; antes disso, porém, tinham sido monges.
Fonte:http://www.ecclesia.com.br

domingo, setembro 16

O nosso sofrimento é igual o de JESUS?

"Não fujas dos sofrimentos, porque neles está a tua saúde."(São Paulo da Cruz)
O sofrimento de Jesus é como uma luz que nos guia pelos caminhos da vida.
Não podemos nos erguer e nem nos fortificar na caminhada aqui na terra sem entender o Calvário, a dor, o sofrimento que Jesus teve que passar por AMOR.

Quando em meditação penetramos os nossos pensamentos nos momentos mais cruciais da vida de Jesus, é nesses momentos que olhamos para dentro do nosso mundo interior e compreendemos que o nosso sofrimento, nunca será igual a tudo que ele passou.

Doloroso momento foi o da angústia no Horto das Oliveiras:"Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice,não se faça, contudo, a minha vontade mas a tua".(São Lucas 22, 39-46)
Jesus sabia o que lhe-ia acontecer e naquele momento a fraqueza humana quis romper a ação do Espírito.Porém, Ele não se deixou levar pela a ação maligna contrariando os planos do Pai.É óbvio, que tudo poderia ser evitado, se não fosse o plano de Salvação de Deus.Contudo ele se obtém obediente e se entrega como um cordeiro inocente.

E nós? Quando vem sobre nós a angústia, os tormentos, as desilusões, as dores, o desespero, as dificuldades, como reagimos?
Meus amados, somos fracos demais, ousamos ultrapassar a até mesmo a obediência de Cristo a Deus naquele momento tão obscuro e doloroso.Ele deixou que se cumprisse a vontade de Deus, o quanto nós na primeira provação já corremos de templo em templo, recorremos aos curandeiros, as cartomantes, aos adivinhos e tantas outras seitas e falsas religiões a procura de aliviar os sofrimentos.
Não aceitamos passar por sofrimentos, já reclamamos e xingamos Deus, nunca estamos satisfeitos com o que temos, buscamos mais... e aí nos tornamos ambiciosos, invejosos,cobiçosos e avarentos.
Passamos a creditar em qualquer mensagem que favorece sempre o nosso ego, e quando escutamos o evangelho na sua radicalidade não queremos aceitá-lo.

Jesus entregou sua vida por amor, justiça, paz e nos deixou na Cruz o grande sinal:Que dela poderemos vencer a morte.
"Mesmo carregado de grandes e molestas tentações, o homem pode ir a Deus, desde que sua razão e vontade não consintam nelas."(São Paulo da Cruz)
Fiquem com Deus!
PAZ E BEM!!!
Tarcísio Silva.

sábado, setembro 15

Primeira Versão da Lenda do Convento dos Capuchos de Sintra

Entrada do Claustro
***"Da curiosa Relação do Castelo da Serra de Sintra, transcrevemos o presente trecho que nos falta da tentação do diabo ao virtuoso Frei Honório:
Saindo do convento de (Santa Cruz ou da Cortiça) para a parte de baixo do Carril, que vai dar ao penedo, em distância de tiro de espingarda, se venera uma cruz, que fez com o dedo em uma pedra tosca o venerável Frei Honório de Santa Maria, aparecendo-lhe o demónio para impedir e confessar uma pecadora, com a qual o fez desaparecer; e havendo vários incêndios na serra, assim que chegava o fogo a este lugar, se extinguia, ficando ileso desde a cruz até à cova da cerca onde habitava."
Cova do Frei Honório
***Segunda Versão da Lenda do Convento dos Capuchos de Sintra:

"Um dos habitantes do convento de Santa Cruz ou dos Capuchos, foi Frei Honório, homem de muita fé e de grandes virtudes. Muito estimado e respeitado dos habitantes daquelas redondezas, ali viveu durante trinta anos, sofrendo dolorosa e resignada penitência. Seu corpo jaz na Igreja daquele curioso convento. Diz-se que certa vez, Frei Honório encontrou pelos campos uma linda rapariga, “para quem não olhou”, mas que o forçou a fazer alto. Exigia-lhe que a confessasse. O virtuoso monge, naquele ermo não tinha confessionário, e sem querer fixar a pequena, mandou-a para o convento em procura de outro confessor. A bela da moçoila não se conformou com a resposta e insistiu ao mesmo tempo com o bom religioso. Rubro como um tomate, s suar em bica - isto passou-se em Agosto - apressou o passo, sempre seguido daquela que lhe pedia absolvição ou penitência, até que, voltando-se e tapando o rosto com uma das mãos para fugir à formosura que o diabo encarnara para o tentar e perder, com a outra fez o sinal da cruz, a que a endiabrada e tentadora, respondeu com um grito, fugindo para não mais ser vista."

Em algumas edições, a esta segunda versão da Lenda do Convento dos Capuchos de Sintra, é ainda acrescentado:

"Então, Frei Honório, por castigo por ter caído em tentação, isolou-se a pão e água numa gruta existente no Convento.

Convento dos Capuchos de Sintra (depois da Lenda) ou Convento da Santa Cruz

sexta-feira, setembro 14

Caminho dos Ascetas Iniciação à vida espiritual (Tito Colliander)

Virgem das Três Mãos


Caminho dos Ascetas
Iniciação à vida espiritual
(Tito Colliander)




Decisão inicial e perseverança


Se queres salvar tua alma e conseguir a vida eterna, sacode o teu torpor, faz o sinal da cruz e diz: "Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém." Não se obtém a fé pela reflexão, mas pela ação. Não são as palavras e a especulação que nos ensinam quem é Deus, mas a experiência. Para deixar entrar o ar fresco, é preciso abrir a janela; para bronzear a pele, é preciso expor-se ao sol. Para adquirir a fé, é a mesma coisa; como dizem os santos Padres, não se chega ao objetivo, permanecendo confortavelmente sentado, esperando. Imitemos o filho pródigo: "Partiu, então, e foi ter com o pai" (Lc 15:20).
Qualquer que seja o peso e o número de cadeias que te acorrentam à terra, nunca é tarde demais. Não é sem motivo que está escrito que Abraão tinha setenta e cinco anos quando partiu; e os operários da undécima hora receberam o mesmo salário que os que trabalharam desde a manhã. E também, nunca é excessivamente cedo. Nunca é cedo demais para apagar um incêndio na floresta. Gostarias de ver tua alma devastada e queimada? No batismo, recebeste a ordem de te lançares num combate invisível contra os inimigos da tua alma. Põe mãos à obra. Há bastante tempo, usas de subterfúgios. Mergulhado na negligência e na preguiça, desperdiçastes um tempo precioso. Só te resta recomeçar do princípio, porque lamentavelmente deixastes que se empanasse a pureza que recebestes no batismo. Começa, pois, a trabalhar desde já, sem demora. Não adies a tua decisão para hoje à noite, para amanhã, para mais tarde, "quando eu tiver terminado o que preciso fazer agora." Um atraso pode ser fatal. Não; é agora, no mesmo instante de tomar a decisão, que deves mostrar pelos teus atos, que te despedistes do teu velho "eu" e que acabas de começar uma vida nova, à procura de um novo objetivo, seguindo novos caminhos. Levanta-te, pois, corajosamente, e diz: "Senhor, concedei-me que comece agora. Ajudai-me!" Porque, acima de tudo, tens necessidade da ajuda de Deus. Persevera em tua decisão, e não olhes para trás. Que o exemplo da mulher de Ló te sirva de lição: ela se transformou em coluna de sal, por ter olhado para trás (cf. Gn 19:26). Abandonastes o homem velho: não retomes o que é desprezível. Como Abraão, ouviste a voz do Senhor que te disse: "Deixa teu país, tua parentela e a casa de teu pai, para o país que te mostrarei" (Gn 12:1). De agora em diante, é nesse país que se deve concentrar toda a tua atenção.


A insuficiência das forças humanas


Dizem os santos Padres, todos a uma só voz: "A primeira coisa que deves inculcar no espírito é que nunca, de modo algum, te deves apoiar em ti mesmo. O combate que vais enfrentar é extraordinariamente árduo, e as forças humanas, sozinhas, são de todo insuficientes para conduzi-lo. Se confias em ti mesmo, serás derrubado de imediato, e perderás toda a vontade de continuar a luta. Só Deus te pode dar a vitória, segundo o teu desejo." Para muita gente, a decisão de não colocar em si mesmo a confiança é um sério obstáculo, que os impede de começar uma vez por todas. É necessário perseverar, sob pena de abandonar qualquer esperança de ir mais longe. Com efeito, como poderá um homem receber conselhos, formação e ajuda, se pensa que conhece tudo, pode tudo, e não tem necessidade alguma de conselhos? Através de semelhante muro de suficiência, nenhum raio de luz consegue passar. "Ai dos que são sábios a seus próprios olhos, e inteligentes na sua própria opinião!" (Is 5:21); e São Paulo nos dá este conselho: "... não vos deis ares de sábios" (Rm 12:16). O reino dos céus foi revelado aos pequeninos, mas continua oculto aos sábios e aos doutores (cf. Mt 11:25). Devemos, portanto, nos despojar dessa confiança imoderada que temos em nós mesmos. Muitas vezes, ela está arraigada em nós tão profundamente, que já nem percebemos o domínio que exerce sobre nosso coração. O nosso egoísmo, a preocupação com a nossa pessoa, o amor próprio, são precisamente as causas de todas nossas dificuldades, de nossa falta de liberdade interior na provação, de nossas contrariedades, de nossos tormentos da alma e do corpo. Olha um pouco para ti mesmo, e verás a que ponto estás aprisionado pelo desejo de dar prazer ao teu "eu," e somente a ele. Tua liberdade está presa pelos laços estreitos do amor por ti mesmo; assim, és balançado ao acaso, como um cadáver inconsciente, da manhã à noite. "Agora, estou com vontade de beber," "agora, estou com vontade de sair," "agora estou com vontade de ler o jornal." A cada instante, teus próprios desejos te conduzem como por meio de uma rédea; e, se algum obstáculo se coloca no caminho, imediatamente perdes a calma, sob o efeito da contrariedade, da impaciência ou da cólera. Se sondares as profundezas de tua consciência, descobrirás as mesmas coisas. O sentimento de desagrado que experimentas, quando alguém te contradiz, possibilita facilmente essa verificação. Vivemos, assim, como escravos. Mas "... onde se acha o Espírito do Senhor, aí está a liberdade" (2Cor 3:17). Que proveito poderás encontrar em gravitar assim, constantemente, em torno do teu "eu"? Não nos ordenou o Senhor que amássemos ao próximo como a nós mesmos, e que amássemos a Deus acima de todas as coisas? Mas, nós o fazemos? Não estamos, ao contrário, sempre ocupados em pensar no nosso bem-estar? Convence-te, pois, de que nada de bom pode vir de ti próprio. E se algum pensamento desinteressado despertar em ti, podes estar certo de que não vem de ti, mas que deriva da Fonte da Bondade, e que foi depositado em ti; é um dom daquele que dá a vida. Do mesmo modo, o poder de fazer passar ao ato esse bom pensamento, não vem de ti, mas te é concedido pela Santíssima Trindade.

A horta do coração


A vida nova, que acaba de começar, tem sido muitas vezes comparada à de um agricultor. O solo que ele cultiva é um dom de Deus, como as sementes, o calor do sol, a chuva e a força que faz crescer os legumes. Mas o trabalho lhe foi confiado. Se o agricultor quiser obter uma colheita abundante, deve trabalhar de sol a sol, escavar, afofar a terra, regar, podar, pois suas culturas são ameaçadas por muitos perigos que comprometem a colheita. Deve trabalhar sem descanso, estar sempre alerta, sempre preparado para o que der e vier, sempre pronto a intervir. E apesar de tudo isso, afinal de contas, a colheita depende inteiramente do tempo e dos elementos, isto é, de Deus. A horta que nos dispusemos a cultivar, e pela qual devemos velar, é o nosso próprio coração; a colheita é a vida eterna. Ela é eterna porque não é medida pelo tempo e pelo espaço; não está ligada às circunstâncias exteriores. É a vida verdadeira, uma vida de liberdade, de amor, de misericórdia e de luz. Não tem nenhum limite, e por isso é eterna. É uma vida espiritual, que transcorre numa esfera espiritual. É uma nova dimensão da existência. Começa neste mundo e não tem fim. Nenhuma autoridade terrestre tem poder sobre ela, e a descobrimos no fundo do coração. "Persegue-te a ti mesmo, diz santo Isaac, o Sírio, e teu inimigo será derrotado só pela tua aproximação. Faze a paz contigo, e contigo farão a paz o céu e a terra. Esforça-te para entrar na tua cela interior, e verás a morada celeste, pois elas são a mesma e única coisa: penetrando em uma, contemplarás também a outra. A escada do Reino está em ti, escondida no teu coração. Se te desfizeres do fardo de teus pecados, descobrirás em ti o atalho que tornará possível a tua ascensão." A morada celeste, de que fala o santo, é um outro nome da vida eterna. Também é chamada Reino dos céus, Reino de Deus, ou simplesmente Cristo. Viver no Cristo, é viver na vida eterna.

Um combate silencioso e invisível


Agora, que sabemos onde se deve travar o combate que acabamos de começar, e o que está em jogo, resta-nos compreender por que o chamam "combate invisível." É que ele se desenvolve inteiro em nosso coração, em silêncio, bem no fundo de nós mesmos. Esse particular também é importante, e os santos Padres insistem sobre ele com veemência: "Conserva os lábios bem fechados sobre o teu segredo!" Se abrirmos a porta durante um banho de vapor, o calor vai-se embora, e o tratamento perde a eficácia. Assim pois, não fales a ninguém da tua recente decisão. Não digas nada da tua nova vida, nem das experiências que fazes, ou daquilo com que, um dia, esperas ser favorecido. Deves tratar disso só entre Deus e ti, exclusivamente. A única exceção deve ser teu pai espiritual. O silêncio é necessário, porque falar com facilidade de seus próprios assuntos só pode incitar à preocupação consigo mesmo, além de alimentar a confiança em si. Ora, são tendências que devem ser reprimidas, antes de tudo. Graças ao silêncio, cresce a nossa confiança naquele que vê o que está escondido; graças ao silêncio, falamos àquele que ouve sem necessidade de palavras. Procura apenas dirigir-te a ele; é nele que deve estar a tua confiança. Estás ancorado na eternidade, e na eternidade, toda palavra emudece. De agora em diante, deverás pensar que tudo o que te acontece, importante ou não, te é enviado por Deus, para ajudar-te no teu combate Só ele sabe o que te é necessário, e o que te falta no momento presente: adversidade ou prosperidade, tentação ou queda. Nada acontece por acaso; não há nenhum acontecimento do qual nada tenhas que aprender. Deves compreender bem isso, desde já, pois é assim que aumentarás a tua confiança no Senhor, que escolhestes seguir. Os santos nos dão ainda um outro conselho para a caminhada: considera-te uma criança que apenas começa a falar, e que esteja dando os primeiros passos. Toda a tua sabedoria segundo este mundo, e todo o teu conhecimento, não têm utilidade para o combate que te espera; tampouco te servem a situação social e os bens. Tudo o que se possui, e que não é empregado no serviço do Senhor, é um fardo; um conhecimento do qual o coração não partilhe é astéril e, logo, nocivo, uma vez que é pretensioso. Chamam-no "ciência simples," porque é desprovido de calor e não alimenta o amor. Deves, pois, abandonar toda a tua ciência, e tornar-te ignorante, para seres sábio. Deves tornar- te pobre para seres rico, e fraco para seres forte.

A renúncia de si mesmo e a purificação do coração


Desarmado, fraco e desprovido de poderes, empreende a mais difícil das tarefas: vencer teus próprios desejos egoístas. É exatamente isso a "perseguição de si mesmo" de que depende, finalmente, o resultado do teu combate; pois, enquanto a tua vontade egoísta dominar, não poderás dizer ao Senhor com coração puro: "Que seja feita a tua vontade." Se não te podes desfazer da tua própria grandeza, não poderás abrir-te à verdadeira grandeza. Se te agarras à própria liberdade, não poderás tomar parte na verdadeira liberdade, que é o reino de uma única vontade. O mais profundo segredo dos santos é este: não procures a liberdade, e a liberdade te será dada. A terra não produzirá senão cardos e espinhos, diz a Escritura. É com o suor do seu rosto, com muito sofrimento, que o homem deve cultivá-la. Esta terra é o homem mesmo, sua própria natureza. Os santos Padres aconselham a começar pelas coisas pequenas; pois, como diz Santo Efrém, o Sírio, como poderias apagar um grande incêndio antes de aprender a abafar um fogo de pequenas proporções? Se queres ser capaz de resistir a uma paixão violenta — dizem os santos Padres — abate os pequenos desejos. Não creias que se possa separá-los uns dos outros: eles se prendem como os elos de uma corrente, como as malhas de uma rede. Por isso, de nada serve atacar os vícios principais e os maus hábitos que te opõem forte resistência, se ao mesmo tempo não te esforças por vencer as pequenas fraquezas "inocentes": pequenas gulas, tentação de falar, curiosidade, hábito de se meter nos assuntos dos outros. Todos os nossos desejos, de fato, grandes ou pequenos, têm o mesmo fundamento: o nosso hábito constante de satisfazer apenas a nossa própria vontade. É, portanto, a vontade própria que deve ser condenada à morte. Desde o pecado original, nossa vontade está exclusivamente a serviço do nosso próprio "eu." Assim, o objetivo do combate é a morte da vontade própria. É preciso começar sem demora, e prosseguir na luta sem descanso. Tens vontade de fazer uma pergunta? Não a faça! Tens muita vontade de tomar duas xícaras de café? Toma apenas uma! Tens a tentação de olhar pela janela? Não olhes! Tens desejo de visitar alguém? Fica em casa. Isso é perseguir a si mesmo. Através desse meio, com a ajuda de Deus, faz-se calar a voz ruidosa da própria vontade. Talvez te perguntes se isso é realmente necessário. Os santos Padres respondem com outra pergunta: Crês mesmo que seja possível encher um vaso com água pura, sem despejar primeiro a água suja que nele se encontra? Ou gostarias de receber um hóspede amado, num quarto abarrotado com toda espécie de velharias e de objetos postos de lado? Não. "Todo o que tem esperança de ver o Senhor tal como ele é, purifica-se a si mesmo," diz o apóstolo São João (1Jo 3:3). Purifiquemos, pois, o nosso coração! Joguemos fora todas as velharias empoeiradas que aí se acumulam; lavemos o chão com escova, limpemos os vidros e abramos as janelas, para que o ar e a luz entrem no quarto, onde queremos fazer um santuário para o Senhor. Troquemos enfim de roupa, para que o nosso velho cheiro de bolor já não fique em nós, e para que não sejamos lançados fora (cf. Lc 13:28). Eis o nosso labor de cada dia e de cada instante. Fazendo isso, estaremos apenas cumprindo o que o Senhor nos ordenou por seu santo apóstolo Tiago: "... santificai os vossos corações" (Tg 4:8). Pede-nos o apóstolo Paulo: "... purifiquemo-nos de toda mancha da carne e do espírito" (2Cor 7:1). Diz o Cristo: "Com efeito, é de dentro do coração dos homens que saem as intenções malignas: prostituições, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, malícia, devassidão, inveja, difamação, arrogância, insensatez. Todas estas coisas más saem de dentro do homem, e são elas que o tornam impuro" (Mc 7:21-23). Por isso, ele exorta assim os fariseus: "... limpa primeiro o interior do copo para que também o exterior fique limpo!" (Mt 23:26). Pondo em prática esse preceito de começar pelo interior, devemos ter presente em nosso espírito que não é, de modo algum, por nós mesmos, que purificamos o nosso coração. Não é para a satisfação pessoal que limpamos e polimos o quarto de hóspedes, mas sim para que o nosso hóspede se sinta bem. Nós nos perguntamos: "Será que vai achá-lo a seu gosto? Irá ficar?" Todo o nosso pensamento é para ele. Depois nos retiramos, ficamos em segundo plano, sem esperar resposta. Como explica Nicétas Stéthatos, existem para o homem três estados: o homem carnal, que quer viver para o próprio prazer, mesmo em detrimento dos outros; o homem natural, que deseja agradar ao mesmo tempo a si mesmo e aos outros; o homem espiritual, que quer agradar só a Deus ainda que seja em detrimento de si próprio. O primeiro está abaixo da natureza; o segundo está conforme à natureza; o terceiro está acima da natureza: é a vida no Cristo. O homem espiritual pensa espiritualmente; sua esperança é ouvir um dia os anjos se alegrarem "... por um só pecador que se converte" (Lc 15:10), um pecador que não é outro senão ele mesmo. Que sejam esses os teus sentimentos; trabalha animado por essa esperança, pois o Senhor nos deu este preceito: "... deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito" (Mt 5:48), e "Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça" (Mt 6:33). Não te concedas repouso algum, nenhuma trégua, até que tenhas condenado à morte essa parte de ti mesmo que provém da natureza carnal. Toma a resolução de descobrir em ti toda manifestação do homem animal, e de persegui-lo implacavelmente. "Pois a carne tem aspirações contrárias ao espírito e o espírito contrárias à carne" (Gl 5:17). Mas se temes tornar-te justo a teus próprios olhos, trabalhando para a tua salvação; se temes ser vencido pelo orgulho espiritual, examina-te a ti mesmo, e diz que aquele que teme tornar-se justo a seus próprios olhos, é cego. Porque não vê que ele é justo a seus próprios olhos.

É preciso extirpar o desejo do gozo


A Escritura diz que apenas um pequeno número encontra o caminho estreito que conduz à vida; e que nos devemos esforçar para entrar no caminho estreito, "... pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não conseguirão" (Lc 13:24). Devemos procurar a causa exatamente na repugnância que temos em nos perseguir. Dominamos, talvez, os vícios mais graves e mais perigosos, mas paramos por aí. Deixamos as nossas pequenas fantasias se desenvolverem livremente, como bem entenderem. Não cometemos roubos nem trapaças; porém, os mexericos são a nossa delícia. Não nos embriagamos, mas abusamos do chá ou do café. Nosso coração continua repleto de desejos. As raízes não foram extirpadas, e nós vagamos ao acaso na floresta virgem que cresceu no solo fértil da ternura que sentimos por nós mesmos. Ataca de frente essa ternura para contigo, pois é ela a raiz de todos os males de que sofres. Se não tivesses tanta piedade por ti mesmo, perceberias imediatamente que és tu que fazes a tua própria infelicidade, porque te recusas a compreender que os males que te acontecem são, na realidade, uma coisa boa. A ternura por ti mesmo te escurece a vista. Só tens compaixão por ti; conseqüência: teu horizonte é muito estreito. Teu amor é prisioneiro de ti mesmo. Liberta-o, e já não serás infeliz. Renuncia às tuas nocivas fraquezas e à tua insaciável sede de bem-estar; ataca-as por todos os lados! Condena à morte o teu apetite de prazer. Não lhe deixes ar para respirar. Sê rigoroso para contigo; recusa a teu "eu" carnal as migalhas de prazer que ele reclama obstinadamente. Pois o hábito se fortifica pela repetição dos atos; morre, porém, se não for alimentado. Mas, toma muito cuidado para não fechar ao mal a porta principal, deixando entreaberta a porta dos fundos, por onde ele poderá esgueirar-se, com habilidade, sob outra forma. De que serviria, por exemplo, dormir no chão, se, ao mesmo tempo, procurasses a satisfação em banhos quentes? Para que deixar de fumar, se dás livre curso ao desejo de tagarelar? Qual o benefício de não tagarelar, se lês romances cativantes? E de que servirá abster-te de ler, se deixas em liberdade a imaginação, e te deixas embalar por doces devaneios? Tudo isso não passa de diferentes formas de uma só e única realidade: a insaciável sede de satisfazer tua necessidade de gozo.
Precisas decidir-te a extirpar o simples desejo de possuir objetos agradáveis, de experimentar um sentimento de bem-estar, de ter conforto. Deves aprender a amar as contrariedades, a pobreza, o sofrimento, as privações. Deves aprender a seguir os preceitos do Senhor: não dizer coisas inúteis, não se vestir com excessivo
aprimoramento, obedecer sempre à autoridade, não olhar uma mulher com concupiscência, não ter acessos de cólera, etc... Todos esses preceitos nos foram dados para que os pratiquemos; não para que nos comportemos como se eles não existissem. Senão, eles não nos teriam sido impostos pelo Deus de misericórdia. "... Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo" (Mt 16:24): o Senhor confia, assim, na vontade de cada um ("se alguém quer") e ao esforço pessoal ("negue-se a si mesmo").
Fonte:http://www.padresdodeserto.net

É necessário transferir ao Cristo o amor por nós mesmos

"Se sairmos de nós mesmos, o que encontraremos?" pergunta o bispo Teófano, o Recluso. E ele próprio dá, imediatamente, a resposta: "Encontramos Deus e o próximo." Essa é a verdadeira razão pela qual a negação de si mesmo é uma condição — e a principal — que deve ser cumprida por quem procura a salvação no Cristo: é assim que o centro de gravidade de nosso ser se pode deslocar de nós para o Cristo, que é, a um só tempo, Deus e nosso próximo. Isso significa que toda a solicitude, todo o cuidado, todo o amor que prodigalizamos a nós mesmos é, pois, sem que percebamos, completa e naturalmente transferido para Deus e, por ele, para o nosso próximo. Só então é que poderás fazer o bem de modo que "... não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita, para que a tua esmola fique em segredo" (Mt 6:3-4). Até que isso se realize, não será possível estar "... repletos de todo conhecimento e em grau de vos poder admoestar mutuamente" (Rm 15:14), de modo real, não apenas material. Todas as nossas tentativas nesse sentido são deformadas na base, porque são "nossas" e procedentes do nosso desejo, de nos agradar. É particularmente necessário compreender bem isto; senão, corremos o risco de nos desviar com facilidade, entrando pelo caminho de um pretenso devotamento aos outros e em obras bem intencionadas, mas que nos conduzem inevitavelmente ao lodaçal de nossa própria satisfação. Por conseguinte, não te ocupes demais com vendas de caridade, reuniões de obras assistenciais e de outras
atividades semelhantes. A agitação, sob todas as suas formas, é um temível veneno. Sonda o teu coração, examina-te com cuidado, e reconhecerás que muitas dessas atividades em que parece que nos doamos aos outros, procedem, na realidade, da necessidade de atordoar nossa consciência; sua verdadeira origem é a nossa invencível tendência de procurar o que nos agrada e nos satisfaz (cf. Rm 15:1). Não; o Deus de amor, de paz e de total sacrifício não pode estar onde se procura a própria satisfação, no barulho e na agitação, mesmo sob nobres pretextos. Este é um princípio de discernimento: se a paz do teu espírito se perturba; se estás desanimado ou um pouco irritado, porque uma razão qualquer te obrigou a renunciar a uma boa obra, para a qual tinhas projetos, isso mostra que a sua origem era equívoca. Talvez te perguntes: por quê? Os homens que têm experiência da vida espiritual responderão que os obstáculos e as oposições exteriores só podem atingir os que não entregaram a Deus a própria vontade. É impensável que Deus tenha pela frente um obstáculo. Ora, um ato realmente desinteressado não é "meu," mas sim de Deus; nada pode impedir a sua realização. São apenas os meus próprios projetos, meus próprios desejos — estudar, trabalhar,
descansar, comer, prestar serviço ao meu próximo — que podem ser contrariados por circunstâncias exteriores. Então, eu me entristeço. Mas, para quem descobriu o caminho estreito que conduz à vida, isto é, a Deus, só resta um obstáculo possível: sua própria vontade pecadora. Se quer fazer alguma coisa, mas não pode levá-la a bom termo, por que se entristecerá? Aliás, ele já não faz projetos (cf. Tg 4:13-16). Mas este é um outro segredo dos santos. Não te iludas. Um cristão deve "... andar como ele (Cristo) andou" (1Jo 2:6), ele, que jamais procurou a sua vontade (cf. Jo 5:30), mas nasceu sobre a palha, jejuou quarenta dias, passou longas noites em oração, curou doentes, expulsou demônios, não tinha onde pousar a cabeça, e finalmente foi cuspido, flagelado e crucificado. Pensa, o quanto estás longe dele! Pergunta continuamente a ti mesmo: Passei uma única noite velando e orando? Jejuei um só dia? Expulsei um único demônio? Deixei-me insultar e bater sem resistir? Realmente crucifiquei a minha carne (cf. Gl 5:24)? Renunciei a buscar a minha vontade? Tenhas sempre presente, tudo isso, em teu espírito. Por que é necessário negar-se a si mesmo? Porque aquele que verdadeiramente se negou a si mesmo já não se perguntará: Sou feliz? Estou contente? Tais perguntas não se colocarão mais diante de ti, se de fato tiveres negado a ti mesmo. Com efeito, fazendo isso, terás ao mesmo tempo abandonado todo desejo de procurar a tua satisfação própria, na terra ou no céu. Essa vontade obstinada de encontrar a própria satisfação, é a causa da inquietação e da divisão da tua alma. Abandona-a e luta contra ela: o resto te será dado sem esforço.

É necessário estar sempre vigilante contra as repetidas ofensivas do inimigo


As primeiras vitórias sobre ti mesmo devem ter, para ti, valor de sinal: agora estás no bom caminho. Mas não te consideres virtuoso; apenas agradece a Deus, pois foi ele que te deu força; não te alegres em demasia, mas apressa-te em prosseguir na tua estrada. Senão, o demônio vencido reerguerá a cabeça e te pegará pelas costas.
Lembra-te do mandamento que os israelitas tinham recebido de Deus, para te servir de lição: "... Quando tiverdes atravessado o Jordão, em direção à terra de Canaã, expulsareis de diante de vós todos os habitantes da terra. (...) aqueles que deixardes dentre eles se tornarão espinhos nos vossos olhos e aguilhões nas vossas ilhargas" (Nm 33:51-52,55). A aparente importância dessa vitória sobre ti mesmo conta pouco. Pode-se tratar de suprimir o cigarro da manhã, ou até de uma coisa — à primeira vista tão insignificante — como não voltar a cabeça ou evitar uma troca de olhares. O que importa não é o que se vê de fora. As pequenas coisas podem ser grandes, e as grandes, pequenas. Mas, é preciso estar sempre à espera de uma nova fase do combate. Deves estar sempre pronto. Não há tempo para descansar. Além disso, ainda uma vez, permanece em silêncio. Que ninguém saiba o que se passa em ti. Trabalhas para o Ser invisível. Que teu trabalho seja invisível. Os santos nos dizem que, se jogarmos migalhas em torno de nós, elas serão avidamente recolhidas pelos pássaros enviados pelo diabo. Fica sempre alerta contra a vanglória: de um bocado, ela pode devorar o fruto de muitos trabalhos. Por isso, os Padres aconselham discernimento no agir. De dois males, escolhe o menor. Se estás sozinho, escolhe o que há de mais humilde; mas se alguém te observa, toma um caminho intermediário, para atrair a atenção o menos possível. Fica o mais escondido e despercebido que puderes; que seja esta a tua regra em qualquer circunstância. Não fales de ti mesmo; não contes como dormiste, o que sonhaste, o que te aconteceu; não dês tua opinião sem que a peçam; não faças confidências sobre tuas preocupações e cuidados. Tais assuntos de conversa só te podem incitar a te ocupares excessivamente de ti mesmo.
Não mudes nada na tua casa, no teu trabalho, nem nas outras coisas. Lembra-te de que não há lugar, nem ambiente, nem qualquer circunstância exterior, que não seja própria ao combate que empreendeste. A única exceção seria uma ocupação que favorecesse diretamente os teus vícios. Não procures situações nem títulos importantes; quanto mais humilde for o teu estado e mais te puseres a serviço dos outros, mais livre serás. Fica satisfeito com a tua condição atual. Não tenhas pressa de fazer valer os teus conhecimentos e o teu saber-fazer. Evita observações; não digas: "Assim não, nem assim... Faz assim, e deste outro modo." Não contradigas ninguém, não discutas com ninguém, deixa que os outros sempre tenham razão. Não prefiras nunca a tua vontade à dos outros. Isso te ensinará a difícil arte da submissão e, ao mesmo tempo, da humildade. Ela é indispensável.
Recebe as advertências sem recriminações. Dá graças quando és desprezado, esquecido, ignorado. Porém, não cries ocasiões de humilhação: elas te serão fornecidas ao longo do dia, à medida que delas necessitares. Às vezes se notam pessoas que conservam sempre a cabeça baixa e forçam situações para se colocarem em último lugar. Então, talvez digas: "Como ele é humilde!" Mas o verdadeiro humilde tem a arte de não se deixar notar. O mundo não o conhece (1Jo 3:1). Para o mundo ele é, o mais das vezes, "um zero." Quando Pedro e André, Tiago e João largaram as redes e seguiram Jesus, o que pensaram os companheiros que eles abandonavam à beira do lago? Para estes, os outros discípulos não existiam mais; tinham ido embora. Não hesites, não temas desaparecer, tu também, longe "desta geração adúltera e pecadora." Que desejas ganhar: o mundo, ou tua alma? (cf. Mc 8:34-38). Ai de vós, quando todos vos bendisserem! (cf. Lc 6:26).

A vitória sobre o mundo


São Basílio, o Grande, disse: "Não nos podemos aproximar do conhecimento da verdade, com o coração inquieto."
Por isso nos devemos esforçar para evitar tudo o que agita o nosso coração, tudo que é causa de falta de atenção, de super excitação, tudo o que desperta as paixões ou nos torna ansiosos. Na medida do possível, devemos nos libertar do barulho, da agitação e da inquietação que se produzem por objetos sem importância. Pois, quando servimos ao Senhor, não nos devemos "inquietar e agitar por muitas coisas," mas lembrar sempre que "uma só é necessária" (Lc 10:41-42).
Para tomar banho, é preciso despir-se. O mesmo acontece com o nosso coração: ele deve ser libertado de todos os revestimentos exteriores deste mundo, para que possa ser atingido por Aquele que deve purificá-lo. Os raios benfazejos do sol só poderão agir sobre a pele, se esta a eles se expuser a descoberto. Assim é também com a virtude salutar e vivificante do Espírito Santo. Portanto, deves despir-te. Recusa a ti mesmo — mas sem que seja excessivamente visível — tudo o que causa gozo e prazer, bem-estar e distração; tudo o que diverte ou satisfaz aos olhos, aos ouvidos, ao paladar e aos outros sentidos. "Quem não está a meu favor, está contra mim" (Mt 12:30). Despoja-te, dia após dia, de tuas necessidades e de teus hábitos, no campo das relações sociais; faze-o calma e refletidamente, sem rupturas por demais bruscas, mas, no entanto, de maneira radical. Elimina pouco a pouco tudo o que puderes dos laços que te prendem ao mundo exterior: convites, concertos, recepções e, de modo geral, "tudo o que há no mundo — a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e o orgulho das riquezas — ", pois tudo isso "não vem do Pai, mas do mundo" (1Jo 2:16), e combate contra nossa alma. O que é, pois, o mundo? Não o imaginemos uma realidade exterior e tangível, que carrega a marca do pecado. O mundo, diz São Macário do Egito, é a cortina de chamas que circunda o coração e fecha o acesso à árvore da vida.
O mundo é tudo aquilo a que estamos apegados e que nos traz satisfações terrenas; é o que, em nós, "não conheceu a Deus" (cf. Jo 17:25).
Nossos desejos e impulsos fazem parte do mundo. Santo Isaac, o Sírio, enumera-os: atração pelas riquezas; propensão a acumular e a apropriar-se de todos os tipos de objetos; inclinação para os gozos sensíveis; desejo de ser objeto de honras, de onde procede a inveja; desejo de dominar os outros e de se fazer escutar; orgulho da glória e do poder; preocupação por ser admirado e amado; sede de louvores; preocupação com o bem-estar do corpo. Todas essas coisas provêm do mundo; elas se associam contra nós para nos enganar e nos conter em pesadas correntes. Se queres libertar-te, examina-te com a ajuda dessa lista e vê claramente contra o que tens de lutar para te aproximares de Deus. Pois ".. a amizade com o mundo é inimizade com Deus. Assim, todo aquele que quer ser amigo do mundo torna-se inimigo de Deus" (Tg 4:4). Os largos horizontes só se descobrem aos olhos se abandonarmos os vales estreitos, com as ocupações e os prazeres que lhe são próprios. "Ninguém pode servir a dois senhores" (Mt 6:24); é impossível permanecer, ao mesmo tempo, no vale e nas alturas. Para poderes subir com maior facilidade, e para te aliviares o mais rapidamente possível do teu pesado fardo, faz a ti mesmo, com freqüência, perguntas como esta: "Não é para o meu próprio prazer, mais do que para o dos outros, que vou a esse concerto, ou ao cinema? É crucificar a minha carne, ir a essa festa? É vender tudo o que tenho, fazer essa viagem de recreio ou comprar esse livro? É tratar duramente o meu corpo e reduzi-lo à servidão (1Cor 9:27), deitar-me para ler? Essa lista de perguntas pode ser modificada ou aumentada, em função dos teus hábitos e da relação deles com o modo de viver que o Evangelho prescreve. E lembra-te de que "quem é fiel nas coisas mínimas, é fiel também no muito, e quem é iníquo no mínimo, é iníquo também no muito" (Lc 16:10). Não temas o sofrimento: ele é que te ajudará a sair desse vale estreito em que vives nos desejos da carne, satisfazendo as vontades da carne e dos pensamentos condenáveis (cf. Ef 2:3). Faze a ti mesmo essas perguntas, sem descanso. Mas, faze-as apenas a ti. Jamais, em caso algum, nem mesmo em pensamento deves fazê-las em relação aos outros. No mesmo instante em que fizeres uma pergunta desse gênero a respeito de alguém, te erigirás em juiz, e por isso tu mesmo serás julgado. Serás despojado do que tinhas ganho com teus esforços. Tinhas dado um passo à frente, mas acabas de dar dez para trás. Então, tens mesmo razão de chorar por tua obstinação, pela queda dos teus progressos e por teu orgulho.

Os pecados dos outros e os nossos

Agora tomaste consciência da tua miséria, da tua pobreza, da tua propensão para o mal; por isso clamas ao Senhor, como o publicano: "... Meu Deus, tem piedade de mim, pecador!" (Lc 18:13). E acrescentas: "Sou mesmo bem pior que o publicano, pois não consigo deixar de olhar o fariseu com desprezo; meu coração se enche de orgulho e diz: ‘Eu vos dou graças, porque não sou como ele!' " Mas — dizem os santos — quando verificares as trevas do teu coração e a fraqueza da tua carne, perderás toda a vontade de julgar o teu irmão. Para além da tua própria escuridão, verás então brilhar a luz celeste em todas as criaturas, que resplandecem com o seu reflexo; pois, não poderás mais notar os pecados dos outros, uma vez que os teus são tão grandes. Com efeito, quando procurares com ardor a perfeição, é que vais começar a descobrir a tua imperfeição. Somente quando tiveres visto o quanto és imperfeito, é que a perfeição te será acessível. Portanto, a perfeição sai da fraqueza. Só então conseguirás o que santo Isaac, o Sírio, prometeu aos que se perseguem a si mesmos: "E teu inimigo fugirá, só porque te aproximas." De que inimigo o santo fala aqui? Evidentemente, daquele que tomou, um dia, a forma de serpente e que, desde então, excita em nós o descontentamento, a insatisfação, a impaciência, a precipitação, a ira, a inveja, o medo, a ansiedade, o ódio, o abatimento, a indolência, a tristeza, a dúvida, e tudo o que envenena a nossa existência e se enraíza em nosso amor próprio e em nossa auto piedade. Como poderá, pois, querer que os outros lhe obedeçam, aquele que verifica, com o sofrimento profundo inspirado pelo amor, que ele jamais obedece a seu Mestre? Como, então, poderá ele perturbar-se, impacientar-se, irar-se, se as coisas não se passam de acordo com seus desejos? Esse homem acostumou-se, por uma longa prática, a não desejar mais nada, e — como explica o abade Doroteu — a quem já não tem desejos tudo acontece segundo os próprios desejos. Sua vontade ajustou-se, exatamente, à de Deus, e ele obtém tudo o que pede (cf. Mc 11:24). Poderá sentir inveja aquele que, bem longe de querer elevar-se, está consciente de suas próprias deficiências, e pensa que os outros, mais do que ele, merecem estima e consideração? Poderá sentir medo, angústia ou ansiedade, quem, como o ladrão crucificado, vê em tudo o que lhe acontece apenas o justo salário de seus atos (cf. Lc 23:41)? A negligência o abandona, porque ele descobre em si mesmo os seus menores traços e persegue-a sem cessar. O abatimento desaparece; pois, como poderá ser derrubado, quem se mantém constantemente prostrado em espírito? Doravante, seu ódio se voltará, inteiro, para o mal que está nele, e que o impede de ver claramente o Senhor; ele odeia a sua própria vida (cf. Lc 14:26). Esse homem não é mais atingido pela dúvida, pois experimentou e viu quanto o Senhor é bom (cf. Sl 34:8); só o Senhor o sustenta. Seu amor se dilata sem cessar e, com ele, a fé. Ele colhe o fruto da humildade. Mas tudo isso só se encontra no caminho estreito, e são poucos os que o encontram (cf. Mt 7:14).

O combate interior é apenas um meio a serviço de um fim


Ao te desfazeres das cadeias exteriores, tu te livras igualmente dos laços interiores. Quando te libertas das preocupações de fora, teu coração também fica livre dos sofrimentos de dentro. Por conseguinte, o rude combate, que és obrigado a travar, não passa de um meio: como tal, não é nem bom, nem mau; os santos o têm muitas
vezes comparado a um tratamento médico. Embora seja muito penoso sujeitar-se a ele, não deixa de ser um simples meio de recobrar a saúde.
Lembra-te sempre de que não realizas nada de virtuoso, esforçando-te para te dominares. De fato, que virtude há em tomar pá e picareta para tentar sair de uma galeria subterrânea, onde se tenha caído por falta de atenção? Não é natural, pois, utilizar as ferramentas entregues por alguém de fora, para escapar dessa atmosfera sufocante e tenebrosa? O contrário não seria pura estupidez? Essa parábola te pode ensinar a sabedoria. As ferramentas são os instrumentos da salvação, os mandamentos do Evangelho, os santos sacramentos da Igreja, que foram postos à disposição de cada cristão por ocasião do santo batismo. Sem uso, não terão nenhum proveito. Porém, utilizados com discernimento, permitirão que abras o caminho para a liberdade e para a luz. "... é preciso passar por muitas tribulações para entrar no Reino de Deus" (At 14:22). Devemos, como o homem preso no subterrâneo, renunciar a descansar, a dormir, a aproveitar os prazeres da vida; como ele, devemos permanecer alertas e utilizar, da melhor forma, todos os instantes que os outros homens passam dormindo, ou ocupados com ninharias. Não devemos largar a pá e a picareta, que representam a oração, o jejum, as vigílias, e todas as outras atividades pelas quais pomos em prática tudo quanto o Senhor nos ordenou (cf. Mt 28:20). E, se nosso coração encontra dificuldade em aceitar tal disciplina, devemos empregar toda a força de vontade para obrigá-lo a se sujeitar, se quisermos realizar nosso propósito. Que recompensa terá nosso prisioneiro? Pode-se dizer que terá alguma recompensa? A recompensa será o seu próprio labor; ela consiste no amor que ele sente em si mesmo pela liberdade, na esperança e na fé que o fizeram tomar nas mãos as ferramentas. À medida que ele trabalha, aumentam a esperança, o amor e a fé: quanto mais ativo for e menos esforço desperdiçar, mais aumenta a sua recompensa. Ele se considera um prisioneiro entre outros prisioneiros; a seus próprios olhos, ele não se separa de seus companheiros: é um pecador entre os pecadores, nas entranhas da terra. Porém, enquanto os outros, resignados e sem esperança, dormem ou jogam baralho para passar o tempo, ele avança e trabalha. Encontrou um tesouro, mas escondeu-o de novo (cf. Mt 13:44); ele leva, escondido dentro de si, o Reino de Deus, isto é, o amor, a fé, a esperança de chegar um dia ao ar livre, fora. No momento, sem dúvida, ele só entrevê a liberdade como num espelho (cf. lCor 13:12), mas em esperança já está livre: "Pois fomos salvos em esperança" (Rm 8:24). No entanto, o Apóstolo acrescenta: "e ver o que se espera, não é esperar," para compreendermos melhor o alcance do que precede. Com efeito, quando o prisioneiro obtém a liberdade e a vê face a face, não é mais um prisioneiro entre os outros, sobre a terra. Ele se encontra, então, no mundo da liberdade, daquela liberdade na qual Adão fora criado, e que nos foi restituída no Cristo. Como o prisioneiro, já somos livres em esperança; mas a realização de nossa salvação situa-se para além de nossa vida terrena. Só então poderemos dizer definitivamente: "Estou salvo!" De fato, o mandamento de ser perfeito como nosso Pai celeste é perfeito (cf. Mt 5:48), não pode ser plenamente cumprido no homem enquanto permanece neste mundo. Logo, por que nos foi dado? Os santos respondem: Para que possamos começar desde já o nosso trabalho, mas tendo diante dos olhos a eternidade.
A liberdade é o objetivo do homem; porém, ele não a pode dar a si mesmo, nem recebê-la do seu próximo; ele só a obterá em Deus, diz o bispo São Teófano. Na verdade, o convite à liberdade toma esta forma: "Arrependei-vos!" E o Senhor nos dirige este chamado: "Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo e eu vos darei descanso" (Mt 11:28). De que cansaço se trata? Daquele que se sofre para assegurar a própria felicidade temporal? E qual é esse fardo? O dos cuidados e preocupações terrenas? De modo nenhum, respondem os santos. Por isso o Senhor diz ainda: "Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim — de mim, que jamais pensei em meu bem-estar temporal, nem levei o peso dos cuidados deste mundo, durante a minha vida na terra." Mas, o que obterão os que sofrem por sua salvação e que se cansam sob o peso da oposição do mundo, interior e exteriormente ao mesmo tempo? Qual será a parte atribuída aos que tomam sobre si mesmos o jugo do Cristo, que vivem como ele viveu, e que aprendem, não dos homens, nem dos anjos, nem dos livros, mas do Senhor mesmo? Que são instruídos por sua própria vida, pela luz e pela ação, no fundo de si? Que podem dizer, também eles: sou doce e humilde de coração, não me tenho em alta conta, nem ao que posso dizer ou fazer? Todos estes encontrarão o repouso para sua alma. Irão recebê-lo do próprio Senhor. Ficarão livres das tentações, dos sofrimentos, das humilhações, do desânimo, da ansiedade, e de tudo o que perturba o coração do homem. Essa é a interpretação de São João Clímaco (Escada, Degrau 25,4). Ao apresentá-la, ele fala de cristão para cristão. Pois a um coração recriado pela graça, a experiência revela, cada dia mais, que o jugo do Cristo é leve para os que o amam. Mas "... aquele que perseverar até o fim, esse será salvo" (Mt 10:22), e não os desanimados e negligentes. A promessa do Senhor não é para eles. Portanto, não devemos jamais nos cansar. Sejamos firmes, inabaláveis, fazendo incessantes progressos na obrado Senhor, cientes de que a nossa fadiga não é vã no Senhor (lCor 15:58). Uma vez que começamos, não deixemos nunca de realizar as obras de uma sincera conversão. Parar seria recuar.

A obediência


A obediência é outro instrumento indispensável, na luta contra a própria vontade. Segundo são João Clímaco, a obediência é a condenação à morte dos membros do nosso corpo, em benefício da vida do espírito. Ela é ainda a sepultura da vontade própria, e a ressurreição da humildade (Escada, Degrau 3:3).
Lembra-te de que, livremente, te deste ao Senhor como escravo; a cruz que levas no pescoço te deve recordar isso. É através dessa escravidão, que chegarás à verdadeira liberdade. Mas, pode um escravo ter vontade própria? Ele deve aprender a obedecer. Talvez perguntes: A quem devo obedecer? Os santos respondem: obedece aos teus dirigentes (cf. Hb 13:17). Mas continuas: Quem são os meus dirigentes? Onde encontrarei um, quando é hoje tão difícil descobrir um dirigente autêntico? A isso, respondem os santos Padres: a Igreja o providenciou. Desde o tempo dos apóstolos, ela nos deu um mestre que supera a todos os outros, e que nos pode alcançar em toda parte, onde quer que estejamos, e em qualquer circunstância. Quer moremos na cidade ou no campo, quer sejamos casados ou solteiros, pobres ou ricos, esse mestre está sempre conosco, e sempre temos ocasião de obedecer-lhe. Queres conhecer o seu nome? É o santo jejum. Deus não precisa do nosso jejum. Nem tem necessidade da nossa oração. Ele é perfeito, nada lhe falta, e não pode precisar de coisa alguma que nós, suas criaturas, possamos oferecer-lhe. Nada temos para lhe dar; mas, diz São João Crisóstomo, ele aceita que lhe apresentemos as nossas ofertas, para nossa própria salvação. A maior oferenda que poderemos apresentar ao Senhor, somos nós mesmos; e, só o poderemos fazer,
abandonando a ele nossa vontade. Aprendemos isso pela obediência; e aprendemos a obedecer pela prática. A melhor maneira de praticar a obediência é a que a Igreja nos fornece ao prescrever dias e períodos de jejum. Ela nos diz, então, de certo modo, como Deus a Adão: "... Podes comer de todas as árvores do jardim; mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, não comerás" (Ge 2:16, 3:3). Além do jejum, temos outros mestres a quem devemos obedecer. Nós os encontramos a cada passo, nas pequenas coisas de nossa vida cotidiana: basta sabermos reconhecer a sua voz. Tua mulher diz que deves levar a capa impermeável; faz o que ela deseja, e estarás praticando a obediência. Um dos teus colegas de trabalho te pede que vás com ele até um ponto do caminho; acompanha-o, e estarás praticando a obediência. Sentes que uma criança precisa que se ocupem dela e que lhe façam companhia: faze o que podes, e estarás praticando a obediência. Um noviço, no mosteiro, não terá mais ocasiões que tu, na tua casa, de praticar a obediência. E outro tanto encontrarás no trabalho e nas relações com teus vizinhos. A obediência derruba muitas barreiras. Conseguirás a liberdade e a paz, à medida que teu coração praticar a não-resistência. Mostra-te obediente, e cercas de espinhos abrir-se-ão diante de ti. Então, o amor terá lugar para se dilatar. Por meio da obediência, aniquilarás o orgulho, o espírito de contradição, a pretensa sabedoria e a teimosia, que te aprisionam numa grossa carapaça. Enquanto estiveres aninhado nela, não poderás encontrar o Deus de amor e de liberdade. Habitua-te, pois, a alegrar-te, quando se te apresenta uma ocasião de obedecer. É absolutamente inútil procurarcriá-la; poderias cair, então, num servilismo artificial, e desviar-te, deleitando-te na tua própria virtude. Não tenhas dúvida de que encontrarás tantas ocasiões de obedecer quantas forem necessárias; e serão exatamente aquelas de que precisas. Se notares que deixaste escapar uma ocasião, censura-te por essa negligência. Agiste como um marinheiro que não aproveitaste um vento favorável.

Progresso e profundidade


Depois das noções elementares e ainda exteriores que precedem, chegamos agora ao combate que se trava nas profundezas de nosso ser. Quando se descasca uma cebola, retiram-se, uma após outra, as peles que a recobrem; finalmente se chega ao coração do bulbo, de onde sai o talo para a luz. Quando chegares ao teu quarto interior, é que perceberás a morada celeste, pois elas são uma única coisa, segundo Santo Isaac, o Sírio. Quando te esforçares por penetrar no teu quarto interior, ali perceberás, além do teu rosto verdadeiro, aquilo que Santo Hesíquio chama de face escura dos etíopes, isto é, os pensamentos maus. São Macário do Egito compara-os a uma serpente escondida em teu coração, e que feriu os órgãos mais vitais da tua alma. Se mataste essa serpente, diz ele, podes orgulhar-te de tua generosidade diante de Deus. Porém, se não a mataste, prostra-te com humildade, como um pobre pecador, e ora a Deus, pois o inimigo está sempre oculto, à espreita. Mas, como poderíamos começar a luta, uma vez que nem mesmo penetramos em nosso coração? Ficamos à porta; mas é preciso bater, com o jejum e a oração, como nos recomendou o Senhor: "... batei e vos será aberto" (Mt 7:7). Bater é agir. Se permanecermos firmes na palavra do Senhor, na pobreza, na humildade, e em tudo o que nos prescreve o Evangelho; se dia e noite batermos à porta de Deus, então, poderemos obter o que procuramos. Quem quer sair do cativeiro e das trevas, deve entrar na liberdade por essa porta. Ali, diz São Macário, receberá a liberdade espiritual, e poderá alcançar o Cristo, Rei celestial.

Humildade e Vigilância

Aquele que empreende o combate interior necessita, a todo momento, de quatro coisas: humildade, grande vigilância, vontade de resistir e oração. Trata-se de vencer, com a ajuda de Deus, os "etíopes dos pensamentos," expulsando-os pela porta do coração e esmagando seus nenês contra a rocha (cf. Sl 137:9). A humildade é uma condição prévia, pois o homem orgulhoso é eliminado do combate, uma vez por todas. A vigilância é necessária para reconhecer imediatamente os inimigos, e para conservar o coração livre dos vícios. A vontade de resistir deve estar presente assim que o inimigo seja reconhecido. Porém, visto que "... sem mim, nada podeis fazer" (Jo 15:5), a oração é o trunfo mais importante, do qual depende todo o combate. Um rápido exemplo te ajudará a compreender: através da vigilância, percebes um inimigo que se aproxima da porta do teu coração: és tentado a pensar mal de um de teus irmãos. Sem demora, fica alerta a tua vontade de resistir, e afastas a tentação. Mas, no último instante, és assaltado por um pensamento de amor-próprio: "Escapei, graças à minha vigilância!" E tua vitória aparente se torna uma terrível derrota. A humildade soçobrou. Se, ao contrário, abandonares a teu Senhor todo o combate, já não terás razão de estar contente contigo mesmo, e continuarás livre. Notarás bem depressa que não há arma com mais poder do que o Nome do Senhor. Esse exemplo mostra que o combate deve ser travado sem descanso. As sugestões más penetram em nós como uma rápida torrente, e é preciso barrar a estrada com grande rapidez. São os "... dardos inflamados do Maligno" (Ef. 6:16), de que fala o apóstolo; e eles chovem, sem cessar, sobre nós. Sem cessar, também, por conseguinte, devemos clamar ao Senhor. "Pois o nosso combate não é contra o sangue nem contra a carne, mas contra os Principados, contra as Autoridades, contra os Dominadores deste mundo de trevas, contra os Espíritos do Mal, que povoam as regiões celestes" (Ef 6:12). O combate se inicia pela sugestão, conforme explicam os santos. Vem depois a relação, quando penetramos mais no que a sugestão nos deu. A terceira fase é o consentimento, e a quarta é o pecado cometido exteriormente. A passagem de uma para a outra, dessas quatro fases, pode ser instantânea; mas também é possível que elas se sucedam como tantos outros degraus, o que permite distingui-las. A sugestão bate à porta, como um vendedor ambulante que oferece a sua mercadoria. Se o deixarmos entrar, ele começa com a sua lábia, e é difícil livrar-se dele, mesmo percebendo que sua mercadoria não vale nada. Vem o consentimento, e finalmente a compra, muitas vezes a contragosto. Deixamo-nos vencer por um enviado do Maligno. A respeito da sugestão, disse Davi: "A cada manhã eu farei calar todos os ímpios da terra" (Sl 101:8), pois "em minha casa não habitará quem pratica fraudes" (ibid. 7). Sobre o consentimento, disse Moisés: "Não farás aliança nenhuma com eles" (Ex 23:32). O primeiro versículo do Salmo l fala da relação, segundo a interpretação dos Padres: "Feliz o homem que não vai ao conselho dos ímpios." De fato, é muito importante resistir aos inimigos "às portas" (Sl 127:5), sem deixá-los entrar. Mas pode acontecer que seja numerosa a multidão que se comprime diante da porta; sabemos também que "... o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz" (2Cor 11:14). Por isso nos advertem os santos Padres: que conservemos o coração puro de qualquer sugestão, sensação ou imaginação, sejam de que natureza forem. Com efeito, não está em nossas mãos separar as sugestões más das boas: só o Senhor o pode. Devemos, pois, abandonar tudo nele com confiança,sabendo que "... se Iahweh não guarda a cidade, em vão vigiam os guardas" (Sl 127:1). Em contrapartida, depende de nós ficarmos vigilantes para que não surja nenhum pensamento vil em nosso coração (cf. Dt 15:9); para que ele 'não se transforme num mercado onde uma multidão heterogênea se agita num contínuo tumulto, de maneira que se torna impossível reconhecer o que se passa. Ladrões e malfeitores podem, então, encontrar-se ali; mas os anjos da paz, em vão os buscarias. A paz e o Senhor da paz fogem de um lugar assim. Por isso, ele nos disse por seu apóstolo: "... santificai os vossos corações" (Tg 4:8); e ele próprio nos adverte: "Atenção, e vigiai" (Mc 13:33). Pois, se ele vier e encontrar impuros os nossos corações, e nós mesmos adormecidos, dirá: "... não vos conheço!" (Mt 25:12). A hora dessa vinda é sempre iminente: se não for no momento presente, será no seguinte; e se não for no seguinte, será agora. Porque, como o Reino dos céus, a hora do julgamento está sempre presente em nosso coração. Assim, pois, se o guarda não vigiar, o Senhor também não vigiará; mas se o Senhor não vigia, o guarda vigia em vão. Por conseguinte, vigiemos à porta do nosso coração, mas sempre chamando o Senhor, incessantemente, para que nos ajude. Não olhes para o lado do inimigo. Não te ponhas jamais a discutir com ele, porque não conseguirás resistir. Devido à sua experiência milenar, ele sabe exatamente como proceder para te abater de imediato. Porém, fica no meio do campo de batalha do teu coração, e dirige para o alto o teu olhar. Assim, o teu coração será protegido de todos os lados ao mesmo tempo. O Senhor mesmo enviará os seus anjos para guardar-te, à direita e à esquerda, impedindo que sejas atacado pelas costas. Em outras palavras, quando fores perseguido pela tentação, não te deves deter para examiná-la, refletir, pesar prós e contras. Agindo assim, já maculas teu coração, perdes tempo; já é uma vitória para o inimigo. Ao contrário, volta-te sem demora para o Senhor e diz: "Senhor, tende piedade de mim, pecador!" Quando tiveres retirado os teus pensamentos da tentação, o Senhor virá. Nunca fiques seguro de ti mesmo. Não formes jamais no teu espírito uma boa resolução deste gênero: "Oh, sim! Vou fazer tudo muito bem!" Nunca tenhas confiança em tuas próprias forças, para resistir a uma tentação, seja ela qual for, grande ou pequena. Pensa, ao contrário: "Tenho certeza de que cairei, quando ela vier." A confiança em si é um aliado perigoso. Quanto menos te apoiares nela, mais seguro estarás. Reconhece que és fraco, totalmente incapaz de resistir à menor insinuação do demônio. E então espantado, descobrirás que não podes absolutamente nada. Visto que farás do Senhor o teu refúgio, poderás imediatamente proclamar que "a desgraça jamais te atingirá" (Sl 91:10) A única desgraça que pode acontecer a um cristão é o pecado. Se te sentes amargurado por teres caído, de um modo ou de outro; se te censuras duramente e se multiplicas as resoluções de "nunca mais recomeçar," é sinal certo de que estás no caminho errado: isso provém do fato de que tua autoconfiança se sente ferida. Quem não confia em si mesmo, fica profundamente surpreso de não ter caído mais baixo, e se sente cheio de reconhecimento. Agradece a Deus por lhe ter enviado, a tempo, o socorro sem o qual ele teria sido completamente esmagado. Levanta-se rapidamente, e começa a oração por um triplo "Deus seja louvado!" Uma criança mimada fica muito tempo chorando, quando cai. Procura atrair uma manifestação de simpatia, uma carícia que a console. Mas tu, não sejas pretensioso; pouco importa se sofres. Ergue-te e recomeça o combate. É normal que se fira aquele que luta. Só os anjos não caem nunca. Mas roga a Deus que te perdoe e não permita que sejas novamente surpreendido. Não sigas o exemplo de Adão, jogando a culpa em tua mulher, ou no demônio, ou em qualquer outra causa exterior. A causa da tua queda está em ti mesmo: enquanto o Mestre estava fora de casa, deixaste os ladrões e os malfeitores entrarem e pilharem tudo à vontade. Roga a Deus que isso não se repita. Perguntaram a um monge: "Que fazeis aqui, no mosteiro?" Ele respondeu: "Caímos e nos levantamos, caímos e nos levantamos, caímos e nos levantamos outra vez." De fato, em tua vida, poucos minutos se passam sem que caias pelo menos uma vez. Então, ora para que Deus tenha piedade de ti. Ora para obter perdão e graça; suplica, como o pode fazer um criminoso condenado à morte, e lembra-te de que é somente pela graça que fomos salvos (cf. Ef 2:5). Não podes, de modo algum, reivindicar a libertação e a graça como algo que te é devido. Considera-te um escravo fugido que, prostrado diante de seu senhor, suplica que o poupe. Essa deve ser a tua oração, se queres seguir a doutrina de Santo Isaac, o Sírio, e "abandonar o fardo interior de teus pecados, para descobrir, dentro de ti mesmo, o atalho que sobe, tornando possível a ascensão."

Tudo sobre a Oração

A oração — l


Do que precede, conclui-se que a oração é o primeiro e, sem comparação, o meio mais importante que devemos empregar no combate. Aprende a orar, e vencerás todas as Potências do mal que possam, algum dia, te assaltar. A oração é uma das asas que nos erguem para o céu; a outra é a fé. Com uma asa só, não se pode voar: a fé sem a oração é tão vã quanto a oração sem a fé. Mas, se tua fé é frágil demais, é bom clamar: "Senhor, dai-me a fé!" É muito raro essa oração não ser atendida. O grão de mostarda, como disse o Senhor, torna-se uma grande árvore. Quem quer receber sol e ar, abre as janelas. Seria ridículo ficar por trás das cortinas fechadas e queixar-se: "Não há luz; não há nem um pouco de ar!" Essa imagem mostra o papel da oração: o poder de Deus e a sua graça estão sempre e em toda parte ao alcance de cada um de nós; porém, só podemos receber a nossa parte se a desejamos e se agimos conforme esse desejo. Sem a oração, não esperes encontrar o que procuras A oração é o início e o fundamento de todo esforço para Deus. É ela que faz brilhar o primeiro raio de luz, que te faz sentir antecipadamente o gosto do que procuras, e que desperta o desejo de progredir. A oração é, segundo São João Clímaco, o fundamento do mundo. Um outro santo comparou o universo a um globo, que deve a sua estabilidade à Igreja que ali está implantada; mas a própria Igreja é sustentada pela oração. A oração é uma troca e um encontro entre a humanidade e Deus. É a ponte pela qual o homem passa para além do seu "eu" carnal e de suas tentações; e acede ao verdadeiro "eu" espiritual e à liberdade. Ela é a muralha contra todas as desordens, a arma contra a dúvida; acaba com a tristeza e contém a ira. A oração é um alimento para a alma e uma luz para o espírito; consegue para nos, já neste mundo, uma parte da alegria que virá. Para aquele que ora verdadeiramente, a oração é a sentença, o tribunal, o trono de Juiz; antecipa o julgamento final para agora, para o momento presente, no fundo do coração. A oração e a vigilância são a mesma e única coisa, pois é em companhia da oração que deves ficar à porta do teu
coração. Olhos bem abertos percebem imediatamente a menor modificação que se produza em seu campo de visão; assim acontece com o coração que ora sem cessar.
Na aranha se encontra outro exemplo: ela fica no meio da teia, ouve a menor mosca que venha prender-se nela, e mata-a. Assim também, a oração deve ficar, como sentinela, no meio do teu coração: ao menor estremecimento que revele a presença de um inimigo, ela o mata. Abandonar a oração, é desertar do posto quando se está de guarda. A porta fica, então, aberta às hordas devastadoras, e os tesouros que se acumularam são entregues à pilhagem. Os ladrões não precisam de muito tempo para fazer o seu trabalho: a ira, por exemplo, pode destruir tudo num instante.

A oração — II


O que precede esclarece que, quando os Padres falam de oração, não estão se referindo a orações ocasionais, nem às orações da manhã e da noite, nem das que se fazem antes das refeições; para eles, oração é sinônimo de oração perpétua; de vida de oração. Tomaram ao pé da letra a ordem "... orai sem cessar" (1Ts 5:17). Compreendida desse modo, a oração é a ciência das ciências e a arte das artes. O artista trabalha com argila, tintas, palavras ou sons; na proporção de seu talento, ele lhes confere harmonia e beleza. A matéria com a qual o homem de oração trabalha, é viva, é a própria natureza humana. Por meio da oração, ele a modela, dando-lhe harmonia e beleza. É ele o seu primeiro beneficiário, mas, por seu intermédio, essa transfiguração se estende a muitos outros. O cientista estuda as coisas criadas e as aparências; o homem de oração se eleva até o Criador de todas as coisas. Ele se interessa, não pelo calor, mas pelo Princípio do calor; não pelas funções vitais, mas pela Origem da vida; não pelo seu próprio "eu," mas por Aquele que lhe dá a consciência do seu "eu," pelo seu Criador. O artista e o cientista devem fazer muitos sacrifícios e muitos esforços para chegar à maturidade da sua arte ou de seu saber, e jamais atingem toda a perfeição que ambicionam. Se esperassem sempre a inspiração para se porem a trabalhar, nunca poderiam aprender nem mesmo os rudimentos de sua profissão. É necessária ao violinista uma prática perseverante, para se iniciar nos segredos de seu instrumento tão delicado. Façamos a mesma coisa; quanto mais delicado ainda é o coração humano! "Chegai-vos para Deus e ele se chegará para vós" (Tg 4:8). Cabe a nós, pôr mãos à obra. Se dermos um passo para ele, dará dez para nós — ele que, avistando o filho pródigo, que vinha ainda longe, encheu-se de compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos (cf. Lc 15:20). É preciso, pois, que te decidas, uma vez por todas, a dar os primeiros passos, ainda inseguros, para Deus, se realmente queres aproximar-te dele. Que não te perturbe a falta de jeito, no início do caminho da oração. Não cedas ao respeito humano, à indecisão, aos risos zombeteiros dos demônios que tentam convencer-te de que teu comportamento é ridículo, de que teu disígnio é uma bobagem que não passa de fruto da tua imaginação. Não há nada que o Inimigo tema tanto quanto a oração. Na criança, o desejo de ler aumenta à medida que ela progride no aprendizado da leitura; quando aprendemos uma língua estrangeira, é tanto maior o prazer que sentimos falando-a, quanto melhor a dominamos. O prazer aumenta com o progresso. O progresso vem pela prática. A prática se torna mais fácil com o progresso. O mesmo se pode dizer da oração. Não esperes, pois, nenhuma inspiração extraordinária, para pôr mãos à obra. O homem foi criado para orar, como o foi para falar e para pensar. Mas ele foi mais especialmente criado para orar, pois "Iahweh Deus tomou o homem e o colocou no jardim de Éden para o cultivar e o guardar" (Gn 2:15). E onde encontrarás o jardim de Éden, a não ser em teu coração? Como Adão, deves chorar sobre o Éden perdido pela tua intemperança. Estás vestido de folhas de figueira e com uma túnica de pele (cf. Gn 3:21), que são a tua condição mortal, com suas paixões. Entre ti e a estreita entrada do atalho que leva à árvore da vida, interpõem-se as tenebrosas chamas dos desejos terrenos; e somente aos que venceram esses desejos é concedido "comer do fruto da árvore que está no paraíso de Deus" (Ap 2:7). Adão infringiu só um mandamento de Deus, e tu, como diz Santo André de Creta, tu os transgrides todos, cada dia e a cada momento. Das profundezas de teu estado de pecado, e de teu endurecimento, tua oração deve elevar-se para ganhar as alturas. Muitas vezes, um criminoso endurecido não tem consciência de sua culpa; é próprio do endurecimento. É esse o teu caso. Mas, que não te assuste o endurecimento do teu coração: a oração o abrandará, pouco a pouco.

A oração — III


Quando decidimos começar regularmente a oração da manhã, nós o fazemos, em geral, não porque já tenhamos uma certa facilidade natural para orar, mas sim com a finalidade de conseguir alguma coisa que ainda não possuímos. Ora, quem possui uma coisa, corre o risco de se preocupar, com medo de perdê-la; e quem não a possui ainda, fica ansioso por consegui-la. Por isso, deves começar a praticar a oração, sem nada esperar de ti mesmo, sem procurar "chegar a alguma coisa." Se tens a possibilidade de um quarto só teu, podes seguir ao pé da letra, e tranqüilamente, as indicações do Manual de Orações: "Quando acordas, antes de começar o dia, coloca-te respeitosamente diante de Deus, que tudo vê. Faz o sinal da cruz e diz: Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém."
"Depois de ter invocado assim a Santíssima Trindade, fica em silêncio por alguns instantes, para que teus pensamentos e teus sentimentos se libertem das preocupações deste mundo. Em seguida, recita, sem pressa e de todo coração: Ó Deus, tende piedade de mim, pecador." Vêm depois as outras orações, começando pela do Espírito Santo, da Santíssima Trindade, e o Pai Nosso, que precedem o conjunto das orações da manhã. É melhor ler apenas algumas, tranqüilamente, do que lê-las todas, com pressa.
Essas orações são fruto da experiência que a Igreja acumulou ao longo dos séculos. Através delas, entras na vasta comunhão do Povo de Deus em oração. Não estás sozinho; és uma célula no Corpo da Igreja, que é o Corpo de Cristo. Pela recitação dessas fórmulas, aprenderás também a constância e a paciência, necessárias, não apenas para o corpo, mas também para o coração e o espírito, para que se fortaleça a tua fé. A verdadeira oração é aquela em que o espírito e o coração se põem em uníssono com as palavras; a atenção é, pois, indispensável. Não deixes que teus pensamentos fiquem vagando; recolhe-os continuamente e, cada vez que te deixas levar para longe de tua oração, volta ao ponto em que a deixaste Poderás recitar o saltério da mesma forma. Aprenderás assim a praticar a perseverança e a vigilância na oração. Quem fica diante de uma janela aberta, ouve os ruídos de fora; não pode ser de outra forma. Mas, ele pode, ou não, prestar atenção às palavras que chegam até ele; isso depende da sua vontade. O homem em oração é constantemente solicitado por um fluxo de pensamentos forasteiros, de sentimentos e de impressões. Conter o fastidioso desenrolar desse filme interior, é tão impossível quanto impedir o ar de circular num cômodo cuja janela esteja aberta. Mas depende de cada um prestar atenção nisso, ou deixar de prestar. Dizem os santos ser esse um aprendizado que só se faz pela prática. Quando oras, teu "eu" deve calar-se. Não ores para que se realizem os teus desejos terrenos; mas dizes: "Que seja feita a tua vontade" Não te sirvas de Deus como de um mandatário. Fica calado, e deixa a oração falar.
Segundo São Basílio, tua oração deve conter quatro elementos: adoração, ação de graças, confissão dos pecados e pedido de salvação. Não te preocupes com teus próprios interesses e não ponhas a oração a seu serviço; mas, "busca em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas te serão acrescentadas" (Mt 6: 33). Aquele que procura fazer a própria vontade, e cuja oração não coincide, pois, com a vontade de Deus, encontrará muitos obstáculos no caminho, e cairá incessantemente nas emboscadas do Inimigo. Ficará descontente, irascível, infeliz, hesitante, impaciente ou inquieto; e quando o espírito se encontra nesse estado, ninguém pode permanecer em oração. A oração daquele que tem alguma queixa contra seu próximo é impura. Só podemos e devemos dirigir censuras a uma única pessoa: a nós mesmos. Sem a auto-acusação, a oração será tão vã quanto se, dentro de nosso coração, censurássemos outra pessoa. Não te preocupes por sentires sequidão em ti. A chuva vivificante vem do alto, e não de teu solo ingrato, incapaz de produzir mais do que sarças e espinhos. Aliás, não esperes "estados de oração" extraordinários, êxtases, enlevos ou outras experiências em que encontrarias tua própria satisfação. Não se ora para procurar prazer. "Entristecei-vos, cobri-vos de luto e chorai (...) Humilhai-vos diante do Senhor e ele vos exaltará" (Tg 4:9-10). Pensa no que és e suplica ao Senhor que tenha piedade de ti. O resto depende dele.

A oração — IV


A oração não deve cessar quando terminamos as orações da manhã. Trata-se agora de manter presente a oração ao longo do dia, apesar da diversidade e da complexidade de nossas ocupações cotidianas. O bispo Teófano, o Recluso, aconselha aos principiantes que escolham um versículo curto do saltério, apropriado às suas necessidades; por exemplo, "Senhor, apressa-te em socorrer-me," ou "Criai em mim um coração puro" ou "Bendito és tu, Senhor," etc. O saltério oferece uma grande quantidade dessas orações mais ou menos curtas. Durante todo o dia, podemos guardar no espírito essa oração, e repeti-la com a maior freqüência possível, seja mentalmente, seja em voz baixa ou, melhor ainda, em voz alta, se estivermos sozinhos e se ninguém nos ouvir. No ônibus ou no elevador, no trabalho ou à mesa, tanto quanto possível, retoma-se a oração e fixa-se a atenção no conteúdo das palavras. Assim passa o dia, até a noite, quando se arruma um momento de tranqüilidade para ler a oração da noite no Manual de Orações, antes de deitar. E essas orações curtas também servem para os que não gozam de isolamento suficiente para recitar as orações ordinárias da manhã e da noite. De fato, elas nos podem acompanhar sempre e por toda parte. Em casos assim, a solidão interior supre a ausência de solidão exterior.
A repetição freqüente é importante. É por repetidas batidas de asas que o pássaro se eleva acima das nuvens; o nadador tem de reproduzir inúmeras vezes o mesmo movimento, para chegar ao objetivo desejado. Mas, se o pássaro pára de voar, deverá contentar-se em permanecer nos nevoeiros da terra; e o nadador que pára, corre o risco de perecer no abismo ameaçador que o espreita.
Faz, assim, a tua oração, hora após hora, dia após dia, perpetuamente. Mas ora com simplicidade, sem ênfase, sem complicações, sem fazeres a ti mesmo todo tipo de perguntas: "Não vos preocupeis com o dia de amanhã" (Mt 6:34). Quando chegar o momento, a resposta te será dada.
Abraão partiu sem perguntar: "Como é a terra que me vais mostrar? O que me espera lá?" Simplesmente "... partiu, como lhe disse Iahweh" (Gn 12:4). Faz como ele. Abraão tomou todos os bens que tinha reunido (ibid. 5). Imita-o também nisso; leva contigo, na viagem, todo o teu ser; não deixes para trás nada que possa reter uma parte da tua afeição, na terra que deixaste.
Noé levou cem anos para construir a arca, peça por peça. Faz a mesma coisa; constrói peça por peça, com toda a paciência, em silêncio, dia após dia, e não te preocupes com os que te cercam. Lembra-te: Noé, no seu tempo, estava sozinho no mundo e "... andava com Deus" (Gn 6:9), isto é, na oração. Pensa também na dificuldade, na escuridão, no mau cheiro em que ele deve ter vivido no interior da arca, antes de poder sair para o ar livre e erguer um altar ao Senhor. O ar puro e o altar, tu os descobrirás em ti, diz São João Crisóstomo, mas só, quando concordares em passar pela mesma porta estreita por que passou Noé. Também como Noé, faz "tudo o que Deus te ordenou" (Gn 6:22), e constrói "com orações e súplicas" (Ef 6:18) o barco que possibilitará que passes do teu "eu" carnal e dos teus interesses, múltiplos e egoístas, para a plenitude do Espírito. Quando o Único vem ao nosso coração, diz são Basílio, o Grande, a multiplicidade desaparece. Teus dias passam, então, numa grande sensação de plenitude, sob a proteção daquele que tem a plenitude do universo em suas mãos.

A sobriedade do corpo e do espírito, CONDIÇÃO DA ORAÇÃO

Quando nos entregamos à oração dessa maneira, é importante não dar plena liberdade ao corpo. Santo Isaac, o Sírio, diz que uma oração em que o corpo não esteja desconfortável e o coração aflito, permanece embrionária, sem alma. Ela leva em si o germe da autoconfiança e do orgulho, que conduzem o nosso coração a crer que fazemos parte, não apenas dos "chamados," mas também dos "poucos escolhidos" (Mt 22:14). Não confies nesse tipo de oração, pois é a raiz de muitas ilusões. Como teu coração continuou apegado à carne, teu tesouro também continua a ser de ordem carnal; e, enquanto acreditas, talvez, que atinges o céu, consegues apenas o que também é carnal. A alegria que sentes carece de pureza e se traduz de modo exuberante; tens urgência de falar, sentes vontade de catequizar e converter os outros, sem teres sido chamado pela Igreja a exercer o ofício de mestre. Interpretas a Escritura conforme a tua mentalidade carnal, e não consegues suportar que te contradigam; defendes apaixonadamente o teu ponto de vista. Tudo isso porque te esqueceste de disciplinar o corpo e, por isso, de humilhar o coração. A verdadeira alegria é tranqüila e estável; por isso, o apóstolo nos ordena: "Ficai sempre alegres" (1Ts 5:16). Ela resulta de um coração que derrama lágrimas sobre o mundo e sobre si mesmo, porque todos se desviaram da luz que não se apaga. A verdadeira alegria se consegue através das lágrimas. Por esse motivo, está escrito: "Bem-aventurados os aflitos" (Mt 5:5), e: "... Bem-aventurados vós, que agora chorais," mortificando o "eu" carnal, "porque haveis de rir" pelo "eu" espiritual (Lc 6:21). A verdadeira alegria é reconfortante, uma alegria que brota, não só do conhecimento de nossa própria fraqueza, mas também da misericórdia do Senhor; e ela não precisa de um riso ruidoso para se expressar. Pensa ainda nisto: quem se apega às coisas da terra, pode encontrar alegria, mas também agitação, inquietação e aflição; seu espírito se expõe a contínuas flutuações. A "alegria do teu Senhor" (Mt 25:21), ao contrário, é estável, porque Deus é imutável. Portanto, vigia a tua língua e disciplina o teu corpo, através do jejum e de uma vida austera. A tagarelice é o grande inimigo da oração. Por isso, deveremos dar contas de toda palavra inútil (Mt 12:36). Quando queremos manter limpo um apartamento, procuramos impedir que entre a poeira da rua. Preserva teu coração das tagarelices e dos mexericos sobre os acontecimentos do dia. "... Notai como um pequeno fogo incendeia uma floresta imensa. Ora, também a língua é um fogo" (Tg 3:5-6). Porém, sem ar, a chama se apaga. Deixa também sem ar as tuas paixões, e elas se extinguirão pouco a pouco. Se sentes inflamar-se a tua ira, cala-te, e não deixes que ela transpareça Fala dela somente a Deus. Assim apagarás a mecha que acabou de se acender. Quando te perturbas pelos erros dos outros, segue o exemplo de Sem e de Jafé, e cobre-os com o manto do silêncio (Gn 9:23); assim sufocarás o desejo de julgar, antes que as chamas subam. O silêncio está pronto para ser preenchido com a oração atenta, como um vaso vazio para se encher de água. Porém, quem quiser praticar a arte da vigilância espiritual, não é só da língua que deve cuidar. Deve cuidar de si mesmo (Gl 6:1), minuciosamente, e estender a solicitude às profundezas do seu ser. Nessas profundezas, descobrirá imensos espaços interiores, onde se agita um grande número de lembranças, imaginações, pensamentos, que devem ser reprimidos. Não despertes uma lembrança que poderá cobrir de lama a tua oração; não revolvas as impressões que antigos pecados deixaram em ti. Não sejas "como o cão que torna ao seu vômito" (Pr 26:11). Não deixes que a tua memória se demore em fatos que poderiam reanimar teus maus desejos; não permitas que tua imaginação divague. O baluarte preferido do demônio é exatamente a nossa imaginação. Por meio dela, ele nos atrai para a "relação," isto é, a discussão com ele; daí, para o consentimento e para o pecado em ato. Ele semeia a incerteza e a agitação entre os teus pensamentos; ele te sugere todo tipo de raciocínios, de provas, de perguntas vãs e de respostas que damos a nós mesmos. Opõe, a isso tudo, a palavra do salmista: "Afastai-vos de mim, perversos, eu vou guardar os mandamentos do meu Deus" (Sl 119,115).