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terça-feira, julho 12

São Tomás de Aquino e o estudo da inveja

São Tomás de Aquino e o estudo da inveja
A temática da inveja é contemplada por São Tomás de Aquino na II-II, qq. 23-46 da Suma Teológica, no tratado da virtude teologal da caridade. Logo após ter versado sobre a natureza dessa virtude, seu objeto, o seu ato principal e os atos consequentes ou efeitos da caridade, o Aquinate passa a tratar dos vícios opostos.
Todavia, não é somente na Suma Teológica que São Tomás de Aquino aborda esse tema. Na Quaestio Disputata De Malo, ele dedica principalmente as questões 8 e 10 para tratar da inveja. De acordo com Lauand (2007) estas “parecem ser questões disputadas em Roma durante o ano letivo 1266-67 ou, segundo outros críticos contemporâneos, em Paris, no ano letivo 1269-70″. Também encontramos referências sobre a inveja no comentário à primeira carta de São Paulo aos Coríntios, bem como em suas explicitações sobre o Salmo 36.
Na Catena Áurea, São Tomás compara a inveja a uma traça que corrói ocultamente as vestes, pois dilacera o amor e, por isso, desfaz a unidade (Catena Áurea. In Matt. 6,14). O Aquinate nos adverte que a inveja queima e tortura: “torturados de inveja, queimados de inveja” (Catena Áurea. In Mt cp 21 lc 4).
A inveja é cega: “Atingidos pela cegueira da inveja” (Mt 21 lc 1).
A inveja morde: “Alguns estavam mordidos de inveja” (Mt, 20).
A inveja dói: “Há certos pecados que são dores, como a acídia e a inveja” (In IV Sent. D 17, q 2. a 1, 5).
2.2. A inveja no âmbito da Teologia Moral
Convém ressaltar que, de acordo com Garrigou-Lagrange (2007, cap. 47), até o tempo de São Tomás de Aquino a teologia moral habitualmente seguia a ordem do Decálogo, em que os preceitos eram analisados debaixo do seu aspecto negativo. Entretanto, São Tomás seguia a ordem das virtudes teologais e morais, mostrando sua subordinação e interconexão. Essas virtudes ele as via como funções de um mesmo organismo espiritual, funções apoiadas pelos sete dons do Espírito Santo que são inseparáveis da caridade.
Para São Tomás, a teologia moral é primeiramente uma ciência de virtudes a serem praticadas e, apenas secundariamente, de vícios a serem evitados. Isto é algo muito maior do que a simples casuística ou a mera aplicação dos casos de consciência.
A teologia moral é identificada com a vida espiritual, com o amor de Deus e a docilidade ao Espírito Santo, pois é a virtude da caridade que anima e informa todas as outras virtudes. É por isso que São Tomás, só depois de demonstrar o que é a virtude da caridade, passa a analisar os vícios que lhe são opostos. Só então começa a tratar sobre a inveja. Para São Tomás, a inveja nasceu com o primeiro pecado cometido pelos Anjos que se rebelaram contra Deus.
Os anjos maus só podem ter acometido aqueles pecados ao quais se inclina sua natureza espiritual. Mas a natureza espiritual não se inclina aos bens próprios do corpo e sim aos que podem encontrar-se nas coisas espirituais, já que nada nem ninguém se inclina senão ao que, de algum modo pode convir à sua natureza. Logo, quando alguém se apega aos bens espirituais não pode pecar a não ser deixando de observar a regra do superior. E em não submeter-se à regra do superior naquilo que é devido, consiste precisamente o pecado de soberba. Portanto, o primeiro pecado dos anjos maus não pode ser outro se não o da soberba (Suma Teológica, I, q. 63, a. 2).
Torna-se claro na doutrina tomista que o primeiro e principal pecado é o orgulho ou soberba, pois é um pecado do espírito. Só a soberba e a inveja são pecados puramente espirituais, portanto, do âmbito possível dos demônios:
Sem embargo, por consequência, houve neles também o pecado de inveja. Em efeito, a mesma razão que possui o apetite para desejar uma coisa, a possui para rejeitar o contrário. Por isso, o invejoso doí-se com o bem do outrem, pois julga ser o bem alheio um obstáculo ao próprio. Mas o bem do outrem não pode ser considerado como um impedimento ao próprio bem que desejava o anjo mau a não ser porque queria uma grandeza única, que ficava eclipsada pela grandeza de outrem. É assim que após o pecado de soberba surgiu no anjo prevaricador o mal da inveja, porque não podia suportar o bem do homem e o da grandeza divina, uma vez que Deus serve-se do homem para a sua própria glória.

Um comentário:

  1. Essa foi a melhor explicação que encontrei na internet até então. Obrigado!!!

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