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sábado, julho 23

Padre Josimo Tavares - Um Mártir


Era 10 de maio de 1986. Passava das 15 horas. Ele subia a escada do prédio da Diocese, ao lado da Igreja matriz, no centro nervoso da cidade de Imperatriz, MA. Um pistoleiro, ao pé da escada, chama seu nome. Ao virar-se para atender, tiros são disparados e levam-no ao chão. Martirizado, é conduzido ao hospital, vindo a morrer momentos depois. Desta maneira brutal, injusta, perversa, diabólica, chega ao fim a breve, mas intensa vida do padre Josimo Moraes Tavares.

Nascido em Marabá, PA, em 1953, filho de lavadeira, o parto aconteceu na própria tábua de lavar roupas, às margens do Rio Araguaia, onde sua mãe trabalhava. Com dois anos de idade seu pai abandonou a família, tendo sua mãe mais dois irmãos. Lutando para sobreviver, dona Olinda migrou para Xambioá, GO. Ali, Josimo estudou, com apoio da igreja e depois, sentindo-se vocacionado para o ministério sacerdotal, transferiu-se para o seminário menor, em Tocantinópolis, GO, sede da prelazia.

Pobre, negro, sem pai, muito tímido, Josimo conseguiu estudar com enormes dificuldades. Vendo seu desenvolvimento, o bispo o encaminhou para Brasília, onde continuou sua formação. Depois seguiu para Aparecida do Norte, SP, e finalmente Petrópolis, onde foi aluno de Leonardo Boff.

Concluída a formação, Josimo retornou a Xambioá, tendo sido ordenado padre em 20/01/1979. Passou a servir numa localidade vizinha, Wanderlândia, como vigário auxiliar e diretor do Colégio Nossa Senhora da Conceição. (Neste estabelecimento de ensino, a vida deste redator, que estudava a quinta-série, se cruza com a do padre Josimo).

Após três anos de intenso trabalho pastoral e profético, Josimo conquistou muitos amigos e admiradores e alguns inimigos e desafetos, devido sua postura evangélica em favor dos pobres, da justiça e contra todo tipo de opressão. Transferido para a região do Bico do Papagaio, no extremo norte do então Estado de Goiás (hoje Estado do Tocantins), Josimo continuou seu ministério, na igreja e na Comissão Pastoral da Terra, educando, formando e organizando os trabalhadores.

Simples, afetivo e acolhedor, trajando geralmente calça jeans ou de tergal, camiseta e sandália havaiana (até mesmo no altar, celebrando missas), assim era Josimo. Um pobre entre os pobres. Um homem de Deus, a serviço do Reino, dedicado aos pobres e injustiçados.

Essa maneira de compreender Jesus de Nazaré e viver a serviço de Deus, levou Josimo a ser morto pelas estruturas da violência, do coronelismo, da morte, com a discreta omissão dos poderes da Nova República. Tantas vezes o presidente José Sarney e o ministro da justiça foram notificados de que o padre corria risco de vida, mas nada efetivamente foi feito! Em 10 de maio de 2006, recordou-se, tristemente, os 20 anos do assassinato do padre Josimo Moraes Tavares, quando tinha apenas 33 anos de vida!

Sua luta pastoral, entretanto, não foi em vão. Embora haja muita terra a ser possuída, muita dignidade a ser construída, muita justiça a ser executada, pergunte-se aos moradores de Sampaio, Buriti e outras localidades do extremo norte do Tocantins, para entender a dimensão do trabalho do padre Josimo.

Quanto ao assassino e mandantes do crime, embora tenham sido identificados, permanecem impunes.

Josimo morreu. É uma perda que nunca será reconquistada, mas sua vida pacífica continua como semente e fonte de inspiração para tantos que lutam por justiça e dignidade, nesta nossa terra marcada pela violência e injustiça, mas também pela teimosia da esperança.

Por:Clemir Fernandes
Clemir Fernandes é formado em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul, em Ciências Sociais pela UFF e mestre em Sociologia pela UERJ. É professor de Teologia e Ciências Sociais em faculdades e seminários do Rio de Janeiro. É também pesquisador do Instituto de Estudos da Religião (ISER), redator da revista de estudos bíblicos Compromisso (Juerp/Convenção Batista Brasileira), integrante da coordenação executiva da Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS) e coordenador da RENAS Rio. É membro da diretoria da Fraternidade Teológica Latino Americana-Brasil e atual coordenador do núcleo do Rio de Janeiro.

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