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domingo, março 4

Os monges do ocidente sentiram-se fascinados pelo ideal de santidade, representado pelo deserto.

Esses ideais eclodiram em diversos momentos da história religiosa cristã. Eles ressurgiram com força em momentos de crise ou quando alguns valores religiosos encontravam-se ameaçados. O movimento de renovação eremítica no século XI, por exemplo, manifestava quando irrompia uma crise na cristandade. Nesse momento, surgia o deserto dos Alpes, dos Chartreuse . Fundada por São Bruno, a Ordem dos Cartuxos, nascida em fins do século XI, caracterizava-se pelo rigor de suas penitências e pelo desejo de afastamento da sociedade . A vida eremítica ali, no entanto, conciliava- se com algumas regras do cenobitismo, herdeira do monaquismo beneditino. Mas o elemento essencial registrado nos Costumes, elaborados por Guigues, quinto primor da Grande, era a solidão. A Ordem dos Cartuxos iria ter uma importância fundamental na espiritualidade Ocidental.

A procura pela vida solitária, de penitências e mortificações, longe das cidades, não era prerrogativa só de religiosos . Desde a Idade Média vários leigos se aventuraram pelos ermos ou se dedicavam a cuidar de um santo em uma ermida, abrançando a vida solitária . O fenômeno chegava à Idade Moderna e talvez mesmo se acentuasse à época da Contra-Reforma . Na época da criação dos primeiros centros de ascese carmelitas, um grupo de ermitães leigos, por exemplo, que vivia em Peñuela, na Sierra Morena, requereu aos descalços carmelitas a integração à nova ordem . Vivendo com o trabalho de suas mãos, do cultivo de hortaliças e frutas e ervas silvestres, aplicavam- se em rigorosas penitências. Ao tomarem conhecimento que em Pastrana havia um centro eremítico e, receosos das restrições impostas aos leigos de se tornarem eremitas, quiseram aderir aos Carmelitas Descalços.

Litografia de 1903 mostra São Serafim (1759 -1833) dando comida a um urso. Ele foi um dos monges mais importantes da Rússia e praticou a auto-negação a fim de adquirir o Espírito Santo


Os cronistas dos Carmelitas Descalços, pelas descrições da vida destes eremitérios, procuravam sempre evidenciar o rigor e a austeridade da vida desses monges e a adoção do modelo dos primeiros eremitas do deserto. Fazendo eco da literatura de cunho hagiográfico que propagava pela província, enfatizavam a imagem de santidade que integrava o imaginário da época. Outros tantos registros iriam evidenciar as crenças coletivas e o modelo de santidade naqueles séculos. No século XVII, Jorge Cardoso redigiria uma obra, procurando inventariar todos os santos e santas, não só os canonizados e beatificados, mas muitos dos desconhecidos, que os decretos pontifícios não autorizavam o reconhecimento de sua santidade. O empreendimento do autor registraria, assim, um ideal coletivo que estava presente naquela sociedade e que compunha o conjunto dos valores no contexto da sociedade da Península Ibérica barroca. Beatas e eremitas foram protagonistas desse imaginário, que, de formas diferenciadas, acreditaram na conquista espiritual, na busca do maravilhoso, na superação dos limites do corpo e no encontro com o divino.
Fonte:http://www.revistafilosofia.com.br

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